* Doutor em Transportes/UFRGS
É muito difícil ingressar em um fluxo de via principal ou, se estamos saindo de um estacionamento, não é raro ficarmos um tempão presos por falta de oportunidade e espaço para seguir. Na verdade, os colegas do trânsito não estão preocupados com nossos interesses. Eles "não têm tempo a perder". Muitos atrás de películas escuras, nem sempre permitidas pelo CTB. Olham do alto de suas SUV's ou Chevettes. Existem vagas no estacionamento mal ocupadas nas quais não estaciona mais um. Os exemplos de falta de cordialidade no trânsito urbano são muitos. Impera a "lei do mais forte". Muitos estão ricos de dinheiro e pobres de urbanidade.
Nos Estados Unidos, onde quase tudo é estudado, esta questão foi avaliada. Foi marcado um perímetro onde "motoristas cordiais" começaram a circular. Por exemplo, para ingressar em uma via preferencial de fluxo intenso, os condutores pesquisadores solicitavam o ingresso com um sinal de positivo e um sorriso. Via de regra, os solicitantes ganhavam a esperada chance. Por outro lado, quando estavam no fluxo principal, se alguém solicitava ingresso, permitiam a passagem e acenavam com leve abano.
As gentilezas foram praticadas e os tempos de deslocamento dos fluxos, anotados.
Os resultados foram surpreendentes: os tempos dos deslocamentos e congestionamentos reduziram-se de 5% a 7% e, ao final do teste, outros motoristas já estavam adotando a postura gentil, provando o velho dito de que "gentileza gera gentileza".
Há alguns anos, quando contei esta experiência para a jornalista Celia Ribeiro, observei sua satisfação com os resultados. Inclusive, escreveu artigo e reportagem ilustrada sobre o assunto, lamentando a falta de educação e possíveis melhoras. Basta praticar.
Temos o exemplo próximo de Gramado, Canela, Santa Cruz e outras cidades nas quais gentileza gera gentileza. Há quem diga que, em Gramado, o pedestre é rei, às vezes até demais.
Com este texto, tento influenciar os leitores a praticarem direção cordial. Porém, julgo que uma liderança comunitária ou o gestor do trânsito urbano deve promover a iniciativa.
Minha experiência de pedir e permitir têm sido muito positiva. Quem sabe se ao puxar esta corda não vem uma boa surpresa.