* Professor de Física e editor
Agora se começou a falar em respeito, uma espécie de campanha requerendo respeito. É algo tão impensado, como se fossem feitas campanhas exigindo honestidade. Respeito e honestidade, a princípio, são pressupostos de vida. E não são virtudes inatas, aprende-se desde a infância. O respeito até mesmo está sendo usado como um mote do Rock in Rio, ora em andamento. O pautar esse tema politicamente correto _ que desde sempre foi simplesmente aquilo que se deve dedicar a outrem _ radica no respeito às diferenças, diferenças que vão das de gênero, passando pelas de ideias e de "opções" sexuais até a dos "meus direitos."
O que é o respeito? Será algo que se exija, ou que naturalmente paire entre todos os conviventes? O indivíduo, naturalmente, é merecedor de respeito, independente de, digamos, ser ele pedófilo ou terrorista? Ou será o respeito algo que cada um, de acordo com seu caráter, natural, imperceptível e suavemente, será sempre destinatário por parte dos demais, ou que cada indivíduo dedica ao outro?
Respeito e honestidade são objetos de aprendizado caseiro e escolarizado: aprende-se que se deve respeitar o próximo, que não se deve roubar aos outros. O sistema educacional Fundamental e Médio brasileiro está, há muito, na penúria. Dele saem, em geral, criaturas despreparadas tanto cognitivamente quanto para o viver moral. À escola, que compete conferir ao educando a capacidade de discernir diante das coisas da vida, sobre "o que devo fazer" (isso é a moral interna), falha.
Assim, se pode contar hoje com generalizada ausência de postura respeitosa adequada por boa parte dos agentes mais jovens, seja socialmente, seja nas arquibancadas duma arena, seja na atividade laboral. O estádio cheio às vezes é exemplar no delírio desrespeitoso irracional do torcer, o que leva às vias de fato.
O intelectual espanhol J. M. Esquirol (1963), em seu livro O respeito ou o olhar atento (Autêntica, 2008), assinala que respeito significa simplesmente dedicar o "olhar atento" a outrem. A ética do respeito precede a todas as outras. O respeito é o contrário da indiferença humana _ com que se é atendido num balcão, ou que nos dedicam colegas de trabalho na mesma sala _, que significa distância; respeito "coincide com proximidade", mas não com "posse e consumo que suprimem toda a distância." Trata-se de um "acercamento que ao mesmo tempo mantém certa distância."
Enfim, parece efusivamente despropositada uma conclamação ao respeito, como a seria à honestidade.