* Psicóloga clínica, educacional e professora
Quem convive com adolescentes sabe. Há situações em que as redes sociais não conectam. Atuam como armadilhas, em que os adolescentes se tornam presas vulneráveis, emaranhados em relações tóxicas. Nós, adultos, ainda não conseguimos dimensionar os efeitos das relações mediadas pela internet na geração nativa digital. Por um lado, sabemos que há grande fascínio, inúmeras possibilidades interessantes de contatos e a naturalização dessa ferramenta de comunicação; por outro, medo de julgamentos, solidão e ascensão da covardia. Essa geração está se vendo inábil para resolver conflitos olho no olho. Aprenderam a enviar indiretas, a insuflar bate-bocas virtuais, publicizar suas emoções e conversar sem se identificar.
Pode ser avassaladora a vivência de uma experiência de ciberbullying. Assim como é muito duro para um adolescente dar-se conta do seu potencial destrutivo, pois ao mesmo tempo em que gera certo gozo e poder, também gera angústia e desterro. Por vezes, precisamos proteger os adolescentes deles mesmos. O desenvolvimento da empatia está intrinsecamente ligado à crença pessoal de que temos algo de bom para oferecer ao mundo. Quando nos percebemos capazes de cuidar do outro e do ambiente, lado a lado, aprendemos a autonomia necessária para cuidarmos de nós mesmos. Na jornada de descobrirem a si próprios, os adolescentes anseiam por reconhecimento. Então, cabe a pergunta: por quem e de que forma estão sendo reconhecidos?
Se falharmos no reconhecimento do quanto podem contribuir para um mundo melhor, provavelmente, a constituição da moralidade ficará prejudicada e as redes sociais como armadilhas se proliferarão. Em contraponto, estimular espaços de amizade e protagonismo, como grupos culturais, esportivos, de voluntariado, de participação comunitária, é um investimento poderoso no futuro de uma sociedade que se quer conectada, mas, sobretudo, ética, humana e responsável. Aprender a se comunicar é parte importante desse processo e nada substitui as vivências em que precisamos deparar com as emoções estampadas no rosto do outro, em tempo real e em franca conexão.