* Diretor de teatro
A política cultural de Porto Alegre remete tanto à história dos pensamentos, das representações sociais, quanto à história da própria cidade, portanto devemos analisá-la criticamente, pois ela representa uma totalidade construída por ideias, por práticas políticas e administrativas situadas num contexto intelectual e político.
Para compreender essa política cultural, é preciso livrar-se de lugares-comuns de citações de frases de música e das declarações públicas de fidelidade às autoridades do momento. A declaração pública de fidelidade é a senha, a moeda de troca, a prática anacrônica da velha política.
O secretário municipal da Cultura de Porto Alegre, Luciano Alabarse, em artigo recente em ZH, ao associar a imagem de Marchezan Jr. à de Caetano, avança ferozmente sobre a apropriação de um bem simbólico. A filosofia dessa ação expõe o modo como nos relacionamos com a cultura. A contextualização se faz presente para que se possa refletir sobre a inscrição das políticas culturais e, por conseguinte, nesse sistema de produção que é amparado na geração de conhecimentos, de processamentos de experiências e de comunicação de símbolos.
Em que consiste a singularidade da política cultural de Porto Alegre? Quando começa, como é formada, o que se tornou? Tais interrogações devem ser clareadas nessa zona de sombra do contexto intelectual e político da atual gestão. Vamos fingir que a Secretaria Municipal de Cultura existe, para que um dia ela volte a existir.
As práticas culturais, como atividades altamente simbólicas, participam integralmente da economia e do conhecimento da mesma maneira que a educação e a pesquisa científica. A cultura se insere no discurso da sociedade contemporânea como um recurso, uma função de importância sem igual no que diz respeito à estrutura e à organização da sociedade, aos processos de desenvolvimento do meio ambiente e à disposição de seus recursos econômicos e materiais, mas infelizmente as lideranças estão nivelando por baixo a discussão.