A anunciada intenção do governo federal de privatizar a Eletrobras é uma decisão bem-vinda e que já vem com atraso, pois é esperada desde o momento em que o controle por parte do poder público deixou de fazer qualquer sentido também nessa área. Ainda assim, a intenção não pode ser encarada apenas como uma operação para reforço de caixa e redução do déficit público, nem como forma de atender unicamente aos interesses do mercado, cuja reação inicial foi de otimismo. Seria difícil levar adiante a ideia apenas com essa justificativa, apesar de o Congresso ser favorável à privatização dessa e de outras estatais constantes do pacote anunciado ontem.
Por mais que a decisão suscite polêmicas, as mudanças previstas na holding do setor elétrico são inadiáveis. As restrições partem justamente de quem até agora se beneficia, direta ou indiretamente, da ocupação de cargos importantes da empresa por critérios meramente políticos. Essa característica está na origem dos muitos equívocos provocados na área, principalmente os relacionados à política de preços.
Pela complexidade da empresa, que é responsável por todo o setor elétrico – a binacional Itaipu e as usinas nucleares ficam fora dos planos –, as intenções nessa área não podem ser levadas adiante de forma açodada. Seja qual for o modelo adotado, é preciso que possa contemplar questões complexas como os interesses dos consumidores, garantindo mais eficiência e também a segurança na área energética.
O processo deflagrado agora, pelos trâmites necessários, deve se estender até o próximo ano e se confundir com a campanha eleitoral, o que tende a dificultar o debate sobre o tema. Ainda assim, o plano precisa ser bem conduzido, para inspirar o governo federal a abrir mão do controle de outras estatais, muitas delas mais conhecidas pela pressão sobre o déficit público.