A profunda crise brasileira evidencia as consequências da conjuntura sociopolítica anacrônica de um país patrimonialista dominado por corporações que se justificam socialmente pelo clientelismo populista. A carência de valores morais e éticos, expressa na corrupção presente em relações públicas e privadas ou na interação entre ambas, consagra a educação desqualificada com que preparamos esta e as próximas gerações. A perspectiva de mudar tal cenário está comprometida pela orfandade de lideranças qualificadas com visão e valores.
O governo enfraquecido pela corrupção procura liderar as necessárias reformas trabalhista, previdenciária e tributária que, embora urgentes, são insuficientes. É prioritária uma profunda reforma que qualifique o processo político, tornando a máquina pública sujeita a um efetivo controle social. Entretanto, sabemos que a atual classe política, acostumada a subordinar os interesses públicos aos seus, dificilmente irá defender e se submeter aos interesses da sociedade. Outras reformas necessárias, como a da burocracia e do Judiciário, entre outras, também tendem a ser controladas por interesses corporativos. Continuaremos com um Código Penal que expõe a vida dos cidadãos honestos aos assassinos impunes e que permite que os territórios das drogas ganhem poder, imperando sobre a ação do Estado. Assim, consagramos o Estado ineficiente associado a uma máquina de alto custo que presta serviços públicos desqualificados.
A sociedade, até aqui, não valorizou governanças focadas no uso eficaz dos recursos públicos com serviços de qualidade. Hoje, o poder Executivo garante a sua sobrevivência secundado por um Legislativo oportunista e conivente. E a população, sub-representada, vive as consequências danosas sociais e econômicas da orfandade de lideranças providas de cidadania política.
Quando assumiremos a paternidade do destino do Brasil visando a um futuro à altura do potencial que temos? Só reclamações indignadas não resolvem se não houver lideranças mobilizadas para a condução das mudanças necessárias. A persistir a carência de líderes bem-intencionados que visem a um Brasil mais justo através do desenvolvimento sustentável e que entendam a responsabilidade do exercício de uma efetiva e plena cidadania política, não haverá solução.