* Economista
Um governo impopular, uma crise econômica, uma crise política e reformas importantes sendo (mal) discutidas. Só isso já seria suficiente para gerar conflitos. Mas há mais. As reações em torno da reforma trabalhista trouxeram à tona uma ideia que permeia o nosso debate político, a ideia de que há dois lados opostos e de interesses inconciliáveis: empregados e empregadores. Esse entendimento de que os empresários estão sempre contra seus empregados, tentando explorá-los ao máximo, é algo subjacente a vários debates no país.
De todas as empresas do Brasil, 99% são micro e pequenos negócios. As grandes empresas correspondem a apenas 0,4%. São mais de 6 milhões de pequenos e médios estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços. Estamos falando do mercadinho da esquina, da padaria, da cabeleireira, da oficina mecânica. Joesleys, Eikes e Odebrechts são exceções.
Empregados e empregadores trabalham para ter uma vida digna. Há muitos trabalhadores em situação precária, e com direitos não respeitados, é verdade. Mas essa constatação não muda a realidade de muitos empresários: gente que trabalha mais de oito horas por dia, não tem férias ou 13º garantidos, investe o dinheiro que tem (e geralmente um pouco do que não tem) para tentar produzir num país complicado. Gente que enfrenta todo o dia uma das maiores taxas de juros do mundo, além da burocracia, incerteza econômica, insegurança, entre outros desafios.
Olhando sem preconceitos para a realidade que vivemos, a linha que separa capital e trabalho não é tão nítida e fixa. Por que então persiste em várias esferas o discurso de que estamos uns contra os outros? Por que os empresários são frequentemente apresentados como pessoas privilegiadas e com um poder enorme pressão e de dominação? Um ideia equivocada, baseada em estereótipos ultrapassados, parece ser cultivada e fomentada por alguns setores. A pergunta que cabe fazer é a quem interessa esse conflito. Não há resposta fácil, mas certamente incentivar o antagonismo não nos conduzirá na direção de um país mais justo para todos.