Aprovada em Comissão Especial na Câmara dos Deputados, a reforma da Previdência foi, desde a divulgação da delação da JBS, colocada de lado pelo governo. O chefe da Casa Civil do presidente Michel Temer, Eliseu Padilha, admitiu que, devido à tempestade política que paira em Brasília, seria "muito arriscado" confiar ao plenário a aprovação das mudanças antes do recesso.
À coluna, Padilha disse que o governo não cogita fatiamento da reforma e desmentiu as afirmações de Romero Jucá (PMDB-RR) ao jornal O Estado de S. Paulo, sobre abrir concessões para facilitar a aprovação do texto.
- O governo não trabalha com essa hipótese - enfatizou o ministro.
A ideia que circula no Congresso seria aprovar apenas a parte que fixa idade mínima para aposentadoria no país - 65 anos para homens e 62 para mulheres.
Para o mercado, fiador das ideias do ministro Henrique Meirelles, outras concessões resultariam na desfiguração das reformas, o que renderia mais desconfiança em relação à musculatura política do governo. O recuo mais significativo foi a retirada dos servidores municipais e estaduais do texto - 86% do funcionalismo público em atividade no país. Se a reforma da Previdência for aprovada no Congresso, para evitar questionamentos jurídicos, a União dará seis meses para que governadores e prefeitos mudem os regimes locais de aposentadoria. Se não modificarem, os servidores estarão contemplados no texto.
O chefe da Casa Civil diz estar atento às "circunstâncias do plenário" e, por isso, não arrisca apontar uma data para a votação da reforma. Garantiu que a apreciação da denúncia contra o presidente não impedirá a análise, em primeiro turno, das mudanças na Previdência.
Para votar propostas de emenda à Constituição, são necessários 308 deputados na Casa. Para votar a denúncia, 342. Ou seja: se mantiver sua base, o governo poderá retirar quórum e adiar por quanto tempo quiser a apreciação do pedido de investigação.
Aconselhado por aliados, mesmo sangrando Michel Temer deve deixar a rediscussão da denúncia no Congresso para setembro. Até lá, o Planalto torce para que as delações de Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro não contaminem as próximas denúncias da PGR contra o presidente.