* Psiquiatra
O panorama do uso e abuso de drogas ilícitas no Brasil – cocaína, Cannabis, crack, opioides – vem se agravando. O registro do uso dessas substâncias saltou de 0,8% em 2009, para 7,3% em 2012, segundo última atualização de dados do IBGE. Entre adolescentes do sexo feminino com idades entre 13 e 17 anos, o índice de usuários de drogas foi de 6,9% para 9,2% neste período. Diante deste quadro, é evidente que as políticas adotadas não estão obtendo sucesso.
Para ter mais eficácia no combate às drogas, é preciso identificar quais os fatores que levam estes jovens a buscá-las. E a resposta pode estar no aumento de incidência de distúrbios mentais e problemas emocionais. Recentemente, a Organização Mundial de Saúde apontou o Brasil como o país com maior incidência de ansiedade no mundo, o 5º em depressão e o 8º em suicídios. Nos últimos anos, o índice de suicídios teve um aumento considerável: até 2012, o Brasil registrava 9 mil casos ao ano. Em 2016, esse número passou para 12 mil. Alguns fatores que podem justificar estes números são a crise econômica, o desemprego e a diminuição da renda familiar.
Não podemos continuar batendo exclusivamente na tecla de prevenção às drogas sem identificar e tratar de forma adequada as doenças mentais e problemas emocionais. Na puberdade, a procura pelas drogas ocorre justamente porque os jovens não suportam a depressão e, para mascarar os sintomas, buscam um tranquilizante. O mais comum deles é a Cannabis, que num primeiro momento age como sedativo no sistema nervoso central e, após um longo período de utilização, vai sedando e deprimindo. Quando os usuários percebem que a maconha já não faz mais efeito, substituem pela cocaína, que provoca euforia momentânea e, com seu uso prolongado, piora a depressão.
Quando a cocaína agrava o problema, o que acontece? Muitos destes jovens têm agravado problemas mentais ou se suicidam, por isto percebemos a piora do quadro no Brasil, com um perfil de idade cada vez mais tenra e mais precoce. Por isso, precisamos focar nossa atenção para estes problemas que, se não forem resolvidos, serão um problema cada vez mais grave.