Este é o momento de a sociedade gaúcha prestar, acima de tudo, solidariedade aos atingidos diretamente pela chuva, milhares dos quais se encontram fora de casa, sem perspectiva imediata de retorno. Mais uma vez, a pronta ação da Defesa Civil e de voluntários têm contribuído para atenuar o sofrimento de parcelas mais vulneráveis da população. Desde já, porém, a repetição de cheias sem que até hoje tenham sido reparados integralmente os danos das registradas há dois anos exige uma mobilização ainda mais intensa de representantes das comunidades. Períodos de crise econômica, como o atual, tendem a dificultar ainda mais operações de socorro que dependem do poder público.
Sensibilizada com os dramas enfrentados particularmente por moradores próximos a rios, como o Uruguai, o Caí e o dos Sinos, a população gaúcha tem se esmerado em oferecer abrigo, móveis, roupas e produtos de primeira necessidade. A mesma eficiência não ocorre naquilo que depende do poder público, em diferentes instâncias da federação. É o que se verifica tanto no que diz respeito à liberação de verbas de programas sociais quanto no enfrentamento de questões de infraestrutura, que se arrastam no tempo.
O mesmo poder público que não consegue fazer o que deveria, restringindo edificações em áreas de risco e investindo adequadamente em obras de canalização, esbarra ainda mais em dificuldades para reparar os estragos. E há muitos, relacionados tanto a pontes quanto a estradas vicinais, rodovias e asfaltamento em vias urbanas. Os gaúchos não podem se conformar com evasivas ou alegações de falta de verbas públicas para enfrentar prejuízos legados pela chuva em todo o Estado.
Prefeitos das áreas mais atingidas já têm pronto documento com um relato das prioridades, com entrega prevista para a próxima terça-feira ao Ministério da Integração Nacional. É preciso que, no auge da crise política e econômica, as demandas de quem foi prejudicado pela chuva não sejam esquecidas nas gavetas da burocracia.