A quem se surpreende com sua aparência jovem, o alemão Andreas Montag devolve com um sorriso e um "desculpe". O bom humor é um dos aprendizados do executivo nascido em Düsseldorf, que fez questão de vir ao Brasil durante a faculdade de Administração e Finanças (Hochschule Bremen), entre 2007 e 2009, para aprender a língua e os hábitos.
– O Brasil é o poder político e econômico mais forte na América Latina, e assim resolvi aprender português. Hoje estou muito feliz – relata o gerente sênior de projetos da Fraport, encarregado de implantar o padrão Frankfurt nos aeroportos Salgado Filho, de Porto Alegre, e Martins Pinto, de Fortaleza.
Montag costumava percorrer de bicicleta as ruas da "menor metrópole da Europa", como Frankfurt é conhecida, e agora está instalado em São Paulo, mas em ponte aérea entre Fortaleza e Porto Alegre. Na quinta-feira (22), antes de participar do 5º Fórum Internacional de Infraestrutura e Logística, organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, ele conversou com a coluna e garantiu que o plano de investimentos no Salgado Filho será cumprido com precisão germânica.
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Existe um plano para desenvolver o Salgado Filho?
Fizemos um plano de negócios para fazer a licitação. Nesse momento, estamos em fase de transição, reavaliando todos os aspectos desse plano – tráfego, investimentos, expectativas. Estamos trabalhando na base, mas já estamos ajustando. A situação mudou um pouquinho porque durante essa fase do due dilligence (levantamento e checagem de informações prévios a um negócio), olhávamos de fora, com as informações fornecidas pelo governo. Agora estamos avaliando a situação de dentro. Somos parceiros e podemos verificar as expectativas. Nesse momento, é difícil falar de valores, porque estamos reavaliando.
Os ajustes necessários são grandes?
É em detalhes. Tínhamos uma boa ideia, mas agora é para entender melhor como é a realidade daqui, como nós podemos implementar nossas ideias e nossa expectativa.
Mas está tudo certo para a assinatura do contrato em um mês?
Sim, a partir de 28 de julho passamos a ser concessionários oficiais. Vamos assinar na data prevista.
Qual é o maior obstáculo para a ampliação da pista?
O investimento que vamos fazer é razoável, porque hoje, com o tamanho da pista, companhias aéreas que têm aviões de grande porte enfrentam restrições de carga e de distância. É muito importante ampliar essa pista para ter mais opções para usar o aeroporto de Porto Alegre. O investimento é razoável, e estamos ansiosos por fazer. Claro que a situação não é tão simples, porque há comunidades ao lado desse sítio, é importante tratar esse assunto com muita transparência, cuidando das necessidades de todas as pessoas que moram lá hoje, as famílias. Apesar do investimento, tudo tem de passar por um caminho que beneficia os dois lados. Não vou dizer que seja difícil, porque podemos fazer, mas vamos fazer com bastante cuidado.
Já houve contato com prefeitura?
Estamos conversando com todas as partes envolvidas, queremos ficar perto do que está acontecendo. Já visitamos o governador do RS, a prefeitura da cidade, mas vamos conversar bastante para entender como podemos ajudar.
Qual é o cronograma, a partir de agora?
Os prazos estão bem definidos no contrato de concessão. Vamos, primeiro, construir documentos e estratégias para essa transição. Vamos apresentar para Anac, Infraero e SAC (Secretaria de Aviação Civil) também para discutir e combinar se esse é o caminho correto. Vamos junto com a Infraero mais ou menos até o final do ano.
Está previsto que a Fraport assuma sozinha em janeiro de 2018, não?
Depende um pouco do que vai acontecer nessa fase. Enquanto estivermos operando o aeroporto com a Infraero, precisamos receber certificação provisória da Anac para operar esse aeroporto. Assim que isso ocorrer, vamos avançar para a próxima fase, como responsáveis pela operação. Nossa visão é assumir as operações no início do ano que vem. Sem a Infraero, no segundo trimestre de 2018. Podemos negociar com a Infraero quanto a fase 3 pode demorar, mas isso não está definido.
Além da ampliação da pista, o que mais é preciso melhorar no aeroporto?
O contrato tem uma lista de obras imediatas que vamos realizar. São algumas alterações nos terminais, nos fluxos. Não são obras complicadas, mas que vão ajudar a melhorar a experiência dos brasileiros. Claro, ao lado da pista, também, temos que ampliar o terminal.
A Fraport se preocupa com situação política do Brasil?
Não, estamos olhando esse projeto de privatização há muito tempo. Foi iniciado no governo anterior, pela presidente Dilma Rousseff.
Por que o Salgado Filho foi importante para a Fraport?
Olhamos para todos os quatro e, pessoalmente, acho todos "legais", com bom futuro. Fizemos análise profunda e, para nós, os potenciais dos aeroportos de Porto Alegre e de Fortaleza foram maiores. A localização geográfica é importante, em Porto Alegre está o centro do Mercosul. Também a infraestrutura que já existe, achamos que Porto Alegre é um aeroporto bem interessante. O potencial de passageiros, parceiros comerciais e investimentos, na nossa avaliação, mostrou que o aeroporto de Porto Alegre era atrativo, e estava correto.
O maior atrativo é o transporte de cargas?
Não, carga também tem um potencial, claro, mas para nós o fluxo dos passageiros também é bastante importante.
A avaliação consensual é que que Fortaleza teria atraído mais como hub turístico, e Porto Alegre mais pelo potencial de cargas.
Claro, os aeroportos são diferentes. Fortaleza tem potencial turístico grande, localização geográfica positiva, bem diferente. É mais perto dos Estados Unidos e da Europa, mas Porto Alegre é também um centro de negócios muito importante aqui no Brasil e na América Latina, e já tem um fluxo de passageiros forte, como os outros centros de negócios, como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte.
Quando vai ser possível começar a investir?
Temos que investir bem rápido (risos). O cronograma de investimentos previsto no contrato tem fases bem definidas. Nos primeiros dois anos, temos que realizar muitos investimentos. É um cronograma obrigatório e desafiador, mas vamos fazer. Estamos avaliando com equipes técnicas, operacionais, de TI que estão visitando os aeroportos para preparar essas operações.
Há expectativa de investimento de R$1,6 bilhão, é um valor adequado?
É mais ou menos o correto. Vamos nessa direção.