Entre tantas divisões que o julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vem expondo entre ministros, merece atenção especial o alerta do relator do caso, Herman Benjamin, sobre a urgência de o país contar com uma reforma eleitoral abrangente e corajosa. Independentemente do resultado final em plenário, é certo que a decisão não será suficiente para evitar a repetição de fatos como os relacionados à última eleição presidencial. Este é o momento de o país acabar de vez com a hipocrisia na política. Um primeiro passo importante é impor clareza e transparência aos financiamentos de campanhas para eleger quem deveria representar os interesses do bem comum, não de corporações influentes com interesse em ganhos escusos no setor público.
A proibição de doações empresariais para campanhas, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2015, significou um avanço importante. Ainda assim, é insuficiente para livrar o exercício da política dos interesses de lobbies poderosos. Como bem resumiu o relator do caso no TSE, "as ações agora sob julgamento são filhas de um sistema político-eleitoral falido". Nenhuma democracia se sustenta com um pilar desses.
Investigações posteriores ao ingresso das ações sobre a chapa Dilma-Temer no TSE, a maioria no âmbito da Lava-Jato, deixam evidente o quanto a política brasileira continua sendo bancada por interesses da iniciativa privada, com dinheiro desviado do setor público. E, ao mesmo tempo, o quanto as deformações não se restringem a um ou outro partido. O Congresso precisa agir logo para impedir que os descalabros registrados nas eleições de 2014 se mantenham como regra nas eleições de 2018. Um novo marco legal é decisivo, mas é preciso cumpri-lo, com a observância de patamares éticos.
É certo que os parlamentares não tomarão a iniciativa com a amplitude e a velocidade necessárias sem pressão popular.
Ao alertar para a chaga do financiamento de campanhas eleitorais, o relator do caso em julgamento no TSE recoloca na agenda uma questão emergencial para o país. É hora de os brasileiros deixarem claro ao Congresso se têm interesse na manutenção de 35 partidos, em campanhas eleitorais tão dispendiosas e como imaginam que devam ser financiadas. Não há democracia sem políticos, mas os eleitores têm o direito de exigir que seus representantes se pautem por padrões rígidos e pelo interesse coletivo.