* Consultor de empresas, professor da PUC-RS/Famecos, escritor
Quanto menos experimentamos, menos vivemos. E perdemos, de fato, oportunidades de aprender: sobre comidas e bebidas, países e profissões, soluções e marcas. Trata-se de caminho inverso ao das pessoas que "chegaram lá": dificilmente conseguiremos nos tornar diferentes se continuarmos a cultivar e consumir sempre a mesma vida.
Queremos a todo custo ser "alfa", teclando cada vez mais alto, desconsiderando o que desacomoda, fiscalizando quem ousou experimentar: Amós Oz costuma dizer que a principal característica de um fanático é estar mais preocupado com a vida alheia do que com a dele próprio e, nesse sentido, ainda não aprendemos que ser feliz consiste em criar nossa própria felicidade, não em provocar infelicidade no outro.
Não aceitamos ser "beta", estarmos líquidos a novos conteúdos e, enquanto nos escondemos detrás da cortina dos megaplanos, uma vida de verdade acontece com quem arrisca sem freio de mão sabendo que a transformação é mais importante do que o próprio molde: as empresas que hoje mais valem são aquelas que lembram menos o Tio Patinhas e mais o Professor Pardal ou o Gepeto.
Desperdício, no entanto, quando o "alfa" alcança níveis perigosamente globais, impulsionando populistas no trampolim do preconceito e medo, aderente em escala justamente em regiões onde se experimenta menos, mesmo dentro de um país onde estão San Francisco e Nova York – que semeiam a tolerância aquecendo a máquina do caldeirão cultural.
Temos o exemplo bem perto, em um Estado que caminha devagar por carregar o fardo da reverência ao passado, com gente demais querendo ser "alfa" e menos gente querendo ser "beta" – amparados em uma "tradição" que nos ensinou pelo alfabeto da comparação. Nada errado com as tradições, desde que possamos nos mover livremente entre a armadura do tempo e a fronteira da tendência.
Sejamos curiosos: pior que deixar as águas passarem, é não nos permitirmos mergulhar os pés descalços apreciando a beleza do sol refletindo no rio que corre em nossa volta.