* Professor de física aposentado e editor
Como pega bem, numa reunião social de pessoas ditas cultas, alguém, lá pelas tantas, entre um e outro gole de espumante, lascar de cor e com cuidada entonação gutural alguns versos, digamos, de Fernando Pessoa ou Drummond. Os convivas aplaudirão o declamador que conhece versos de cor.
Reza uma já não tão moderna pedagogia romântica (Goethe, perguntado, disse que o romantismo "é a doença"), que as crianças escolarizadas não devem aprender a tabuada de cor, dominá-la de cor. Estranho, pois, como aquele recitador do convescote, sabemos de cor versos de poemas que admiramos ou mesmo de músicas inteiras; mas não saberemos a tabuada de cor, porque pedagogicamente inadequado, de efeitos cognitivos traumatizantes. De cor, vale notar, vem de coração: "De coração".
Os dados trazidos por Zero Hora de 22/6 sobre a ignorância matemática de nossos estudantes colegiais não surpreendem: nove em cada 10 alunos não sabem rudimentarmente matemática. Ora, quem não conhece tabuada não pode desenvolver medianos conhecimentos matemáticos. Acrescento outro dado de 2012: quatro entre cada 10 indivíduos com curso superior completo no Brasil não entendem o conteúdo de um texto simples e não conseguem escrever coerentemente um bilhete. Esses quatro certamente também não saberão realizar operações aritméticas simples sem usar a calculadora e, mesmo, desconhecerão o significado de um percentual. Isto é a ignorância funcional plasmada entre brasileiros que andam por aí atuando.
Há justificativas constituídas por palavras vãs, há muito usadas nas escolas brasileiras para elucidar o fato acachapante de a escola – claro, há exceções – não mais ensinar. Não consegue ensinar, por quê? Nesse caso que resulta na ignorância matemática infantojuvenil, imagino que a resposta poderá ser fornecida em palavras exatas, não por especialistas em educação, mas por professores de cursos de licenciatura em Matemática, docentes que ensinem disciplinas como álgebra linear ou cálculo diferencial. Eles terão a resposta precisa para o problema, que, na verdade, tem sido tratado por ditos educadores com fingimento bem fingido.