Não me admira saber que pichadores presos em flagrante pela Guarda Municipal em Porto Alegre não pagam as multas previstas em lei. Na informação inverídica sobre seus endereços, driblam o processo e escapam da Justiça. Mas o que esperar de vândalos que não têm a mínima noção de pertencimento e de cidadania? Numa afronta à ordem social e movidos por disputas de territórios e "habilidades", eles destroem o patrimônio alheio e o patrimônio público, que é de todos nós. O que resta é uma cidade tomada por uma praga que literalmente sobe pelas paredes.
Somente nos primeiros meses do ano, três importantes bens públicos de caráter histórico foram pichados na cidade: a Ponte de Pedra, o Mercado Público e a antiga Faculdade de Medicina da UFRGS. Outros prédios significativos, como o Paço Municipal, a Catedral Metropolitana e o Museu Júlio de Castilhos, também já foram alvos de pichações. Certa vez, um estudante de arquitetura, estagiário da Secretaria Municipal de Obras, foi pego pichando o Viaduto Otávio Rocha! Acreditem. A cada investida dessas, perdemos um tanto da nossa história, da nossa memória, de civilidade, de beleza e do que já foi significativo para a estética urbana de Porto Alegre. Um exemplo disso é o Monumento a Bento Gonçalves, obra de 1935 do escultor Antônio Caringi, na Avenida João Pessoa, que, além de pichado, sofreu recentemente, em sequência, o roubo de seus dois painéis escultóricos em bronze. Infelizmente, o vandalismo impera na Capital.
É importante entendermos que, quanto mais pichada, suja e visualmente confusa uma cidade, mais a arte do grafite que nela também se expressa – colorida, social e virtuosa – tem dificuldade de visibilidade e de aceitação, pois acaba assolada e maculada por letras e símbolos que só interessam a uma minoria desinteressada pelo coletivo.
Como vereadora, desde o meu primeiro mandato, em 2005, atuo na busca de medidas que minimizem essa prática nociva na Capital, através de projetos de lei e indicações ao governo municipal. Como vereadora e cidadã, ainda vislumbro uma Porto Alegre mais segura, mais eficiente no cuidado com seus bens e livre do excesso caótico das pichações.