* Médico, professor
Mais do que um delicioso jantar, o canibalismo praticado pelos indígenas antropófagos brasileiros era um ato de reconhecimento à nobreza do inimigo. Ao deglutir-se a carne de um bravo, incorporava-se o seu espírito e coragem.
O aventureiro alemão, Hans Staden, prisioneiro dos tupinambás, escapou do moquém, deixando registros detalhados de como as iguarias humanas eram preparadas. Tudo bem ilustrado pelo belga Théodore de Bry.
Há uma carta do padre Luís de Grã, datada de 1554, referindo-se ao modo como estes indígenas canibais preparavam os banquetes, "moqueando" a carne da vítima, ou seja, assando-a entre as folhagens e as labaredas.
Dizem que os caetés foram dizimados pelos portugueses, após ter-se espalhado a notícia (lá pelo ano de 1556) de que eles haviam comido os noventa tripulantes da embarcação que trouxera o primeiro bispo do Brasil, dom Pedro Fernandes de Sardinha, tendo o bispo como prato principal.
Por sorte, com a colonização, o hábito da antropofagia foi aos poucos desaparecendo. Pode-se dizer que se extinguiu a partir do século dezoito. Contudo, ficou na memória indígena. Os ianomâmis, por exemplo, conservam até hoje o hábito de comer as cinzas do amigo morto.
Felizmente, atos de canibalismo em tempos recentes são extremamente raros. Mas há registros impublicáveis. Há alguns anos, no presídio de Pedrinhas, em São Luiz do Maranhão, terra do ex-presidente Sarney, os detentos comeram o fígado de um companheiro de cela.
Há quem especule que Joesley descenda de uma índia tubinambá. Daí, sua paixão por carne vermelha. O nome Joesley seria uma homenagem a um contrabandista de pele de jaguatirica que atuava no interior de Goiás.
Na fatídica noite de 7 de março, ele teria entrado no Jaburu, rastejando feito o boitatá. E coisa ruim deveria de ter. Porque o morubixaba não o deixaria entrar na oca, no escuro, não fosse para sem-vergonhice.
No fundo, o doublé de tubinambá penetrou na toca, como cobra mandada, para saber o gosto que a carne tinha. Se apetecesse, comeria um por um, de ministro ao presidente. Mas achou a moqueca ruim.
Como um Juruna, ele gravou tudo. E saiu feito a tal princesa moura da Salamanca do Jarau, transformada em lagartixa, fugida de dentro de uma guampa, livre, para as bandas do Uruguai.
O homem branco comum não entende. Na taba, ao fim e ao cabo, o que sobra é o cachimbo da paz. Que acalma todas as tribos. Entre os caciques, imperam a reciprocidade, as redes de parentesco, os mitos e os rituais.