A Lava-Jato nos mostra o esgotamento do sistema político brasileiro e das lideranças políticas e comprova como os partidos, hoje, são resultantes do modelo clientelista patrimonialista com um capitalismo de compadrio de viés populista. Os denunciados são expoentes do sistema vigente, o que nos faz concluir que, sem a reforma política, não teremos resultados diferentes no futuro. A sociedade delegou poderes a políticos que deveriam defendê-la, mas não manteve controle social sobre eles. Agora, a classe política trama maquiagens para acalmar o clamor social que poderia prejudicar seus interesses, tais como o pretendido voto por lista para perpetuar caciques da política.
O danoso sistema político e administrativo que temos consolidou-se na última Constituição, prodigiosa na incorporação dos interesses de todos os setores que assim reivindicaram. Esta imensa obra burocrática e corporativista mostra-se plena de direitos sem nenhuma correspondência com os deveres, penalizando os atores bem intencionados e favorecendo o mercado de troca de facilidades e favores. Para alterar este resultado, só mudando o sistema político e administrativo.
A sociedade quer mudanças, mesmo que não saiba o caminho a seguir. Temos um imenso vácuo de lideranças bem intencionadas para construir o novo sistema e nos preocupa que as medidas duras necessárias propostas para a retomada do desenvolvimento não sejam socialmente assimiladas até as próximas eleições. Se isso ocorrer, cria-se espaço para lideranças populistas, com discursos enganosos e ofertantes de soluções fáceis.
A solução do país passa, necessariamente, pela qualidade política e esta dependerá da capacidade de cidadania mobilizadora da sociedade. Na última eleição municipal, surgiram lideranças novas, mas isso não basta sem que haja a reforma dos fatores eternizadores do modelo atual: loteamento da máquina e recursos públicos para atender às demandas da sobrevivência dos caciques políticos. Ainda faltam líderes compromissados com as mudanças paradigmáticas que mobilizem a sociedade brasileira para vencer a maquiagem enganosa dos interesses corporativistas. Para que estes não prevaleçam mais uma vez sobre os interesses da sociedade, é preciso entender o momento, participar e controlar as mudanças que o Brasil deve fazer para ter um futuro melhor. Sem uma paradigmática reforma política e administrativa, nossos desejos de um futuro melhor serão apenas sonhos.