Eu compreendi, no convívio com Gérard Vergnaud, meu diretor de tese de doutorado, que há duas fases no aprender – uma fase operatória e uma fase predicativa. Isto é, aprende-se a agir em situações antes de aprender a explicitar o resultado dessa ação. Foi o que me confirmaram três pré-adolescentes há anos em Campinas. Perguntei-lhes o que é sílaba. Embasbacados, eles tentaram responder com perguntas:
– Sílaba é aquilo de vogal e de consoante?
Respondi-lhes que não.
– Sílaba é aquilo de proparoxítona?
Também lhes disse que não.
Concluíram:
– O que é sílaba nós não sabemos. Mas nós sabemos separar palavras em sílabas.
Escancara-se nesse episódio o que é estar numa fase operatória sem conseguir sequer aproximar-se da fase predicativa.
Gérard resgatou a importância da ação no aprender para muito além do dizer, do definir, do explicar.
Por isso, me recuso, há tempos, a dar aulas expositivas. Aulas expositivas servem para alunos que naquele campo conceitual estão já na fase predicativa. Os que ainda estão na fase operatória precisam de desafios na linha da resolução de problemas a partir de situações e não de explanações.
É neste sentido que estou preparando a Aula Pública comemorativa dos meus 81 anos, que acontecerá no dia 24 de abril de 2017, no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, das 9h ao meio-dia.
Vou tentar ensinar um monte de boas coisas sobre o que há de mais atualizado nas ciências do aprender. Para tal, estou convidando oito pessoas bem representativas para atuarem comigo no palco do Salão de Atos. Dentre elas, já estão confirmadas Ana Cecília Sucupira, médica, Claudia Fonseca, antropóloga, Cecilia Maria Velez White, economista e ministra da educação da Colômbia de 2002 a 2010, Eduardo Bier, empresário, Gabriel Carvalho, doutor em ensino-aprendizagem de física, e Maria Rita Kehl, psicanalista.
São pessoas de áreas bem diferentes entre si, as quais, organizadas em subgrupos de quatro participantes, poderão demonstrar que se aprende mais e melhor, em certos momentos do processo de construção de conhecimentos, quando se troca entre pares. Será uma concretização do que Piaget afirmou, quase como um enigma, nos idos de 1980:
"Há momentos em que um bom professor pode prestar um péssimo serviço aos alunos".
Sinta-se, quem me lê mais que convidado. Está convocado para essa aula. Aprender não é coisa só de escola. Aprender é estar vivo.