Nossa herança burocrática é antiga e tem origem lusitana, na qual, para alguém empreender, havia a necessidade de uma concessão do rei. Construímos um Brasil patrimonialista que engordou o Estado e as corporações que se integraram a sua dinâmica. Concomitantemente, as relações da sociedade com o poder público passaram a pressupor que este deve resolver todos os problemas. Tais pressupostos favorecem a existência de um "cidadão súdito", que espera do seu "rei" as respostas para seus dilemas. E, assim, o Estado brasileiro se consolidou neste papel soberano por meio do domínio de uma imensa burocracia, que tudo disciplina por regras em todos os campos da vida social.
Este cipoal nos levou a perder a competitividade sistêmica necessária na economia globalizada e gerou a cadeia econômica dos "despachantes" legais e ilegais. Chegamos a 4,4 milhões de normas editadas desde 1988 (mais de 13 bilhões de palavras). Atualmente, nosso país emite 776 normas/dia útil. A International Business Report nos põe em 3º lugar entre 113 países em dificuldades burocráticas, o que nos gera um custo de R$ 50 bilhões/ano. Exemplos desta imensa carga burocrática não faltam: um alvará de construção, no Brasil, toma 469 dias, enquanto que, na Ásia, apenas 26. Aqui, as empresas gastam 2.038 horas/ano para lidar com tributos, contra 163 horas nos países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Esta conjuntura acarretou uma imensa carga tributária para sustentar o funcionamento da máquina estatal e é o maior obstáculo público para se alcançar uma gestão eficiente no setor público. Reduzi-la é um exercício de transferência de poder do Estado e de aumento da cota de liberdade e de responsabilidade das pessoas. Para minimizar a burocracia, é necessário diminuir o Estado brasileiro. Com "menos regulações, menos impostos, menos Estado", teremos produtividade e desenvolvimento para garantir o crescimento da renda per capita no longo prazo.
A questão que se coloca é se teremos capacidade política para superar a cadeia econômica corporativa da burocracia internalizada em todos os momentos da vida brasileira. Conseguiremos sobrepor ao paradigma político com que enfrentamos todos os problemas até aqui por meio de adicionalidade regulatória para atender clamores sociais corporativistas? Viramos um país campeão em burocracia, essencialmente, porque o indivíduo, o "sem corporação", é sub-representado e omisso na vida política e na sua dinâmica. Enquanto permanecermos acomodados nesta condição, nossas chances de sobreviver ao processo burocratizante serão cada vez menores.