Ao pedir ao Supremo Tribunal Federal a abertura de investigação das principais autoridades políticas da República, o procurador-geral Rodrigo Janot cumpriu exemplarmente a atribuição do Ministério Público de defender a sociedade e combater a corrupção, mas também colocou o país num brete de governabilidade. Como governantes e congressistas sob suspeição terão disposição e legitimidade para alterar o que o próprio procurador chama de "triste realidade de uma democracia sob ataque e conspurcada na sua essência pela corrupção e pelo abuso do poder econômico e político"?
Em carta a seus pares, Rodrigo Janot admite que o MP não tem a chave mágica para a solução de todos os problemas revelados pela Lava-Jato, mas que o caso continuará sendo conduzido exclusivamente sob o viés jurídico, com técnica e isenção. Acrescenta, ainda, que o trabalho desenvolvido pela força-tarefa da operação não tem a finalidade de criminalizar a atividade política e que essa é uma oportunidade para a depuração do processo político nacional e para o desenvolvimento sustentável do país.
Resta ver, agora, como os integrantes dos demais poderes da República se comportarão. Do Judiciário, o que se pode desejar é agilidade e firmeza para dar andamento às investigações e aos julgamentos, a fim de que os responsáveis pela degradação moral da política e da administração pública sejam punidos na forma da lei, observado o amplo direito de defesa. Do governo e do parlamento é que não se sabe o que virá, considerando-se o envolvimento direto de vários políticos no problema e a preocupação de muitos deles em simplesmente se safar.
Mesmo neste contexto de incertezas, o país terá que encontrar uma saída democrática, sensata, isenta de interesses partidários e de ódios para o impasse em que se encontra. É evidente que a sociedade precisa se mostrar vigilante em relação aos parlamentares que articulam e propõem projetos com o único propósito de escapar impunes, mas também não pode ignorar que a solução terá que vir do Congresso, dos deputados e senadores eleitos para representar os cidadãos. Talvez seja também uma oportunidade para que os políticos decentes assumam a liderança do processo de depuração das instituições.
Neste ambiente de turbulência política, porém, há um aspecto que não pode ser negligenciado: a preservação da ordem jurídica. Os brasileiros devem se manter atentos para repudiar com veemência qualquer iniciativa que ameace a Constituição e a democracia.