Pois há ocorrências no dia a dia da profunda crise brasileira em que parece estarmos obrigados a aplaudir extravagâncias. Como no caso do espetáculo midiático-policial na madrugada das prisões de alguns mafiosos da carne. Unidades móveis de TVs saindo junto com as viaturas policiais, poderiam ser apenas mais uma caravana abrindo caminho a sirenes para o necessário combate à corrupção nossa de cada dia. Mas aos seus atores parece haver faltado uma cautela, pois avaliaram mal as consequências da estridência operacional. Não se deram conta de que aquela imagem de corre-corre generalizado disponibilizada aos olhos maliciosos do mundo, no mínimo acrescenta dificuldades na preservação de um mercado construído a duras penas e concorrências ao longo do tempo – seguramente em torno de 30 anos. Essa roupa bem que poderia ser lavada em casa. E no começo foi, pois houve total discrição durante dois anos, sem que sequer o ministro da área soubesse. Mas falharam os investigadores ao colocá-la no varal. Pois quando se tornaram atores daquelas imagens instantaneamente reproduzidas no Exterior, acabavam de erguer um monumento global à desconfiança no mais nobre produto de nossas exportações. E em todos os responsáveis pela cadeia produtiva: as entidades de classe, os produtores, as cooperativas, os frigoríficos, as empresas e exportadores honestos, enfim, os elos bons que garantem a solidez desse mercado modelo internacional, e que constituem a esmagadora maioria. E lá na extremidade, a grande vítima é o país. Pois se é politicamente previsível que internamente, mais uma vez levante-se a plateia do quanto pior melhor, é incomum, e desaconselhável, que instituições acreditadas resvalem na autopromoção sem avaliar a ameaça que tal comportamento possa representar a um mercado que se tinha como consolidado.
Para a operação aparecer bem, sequer seria necessário o trocadilho escondido na sua denominação, pois o diabo sabe, como ninguém, que a carne – não a que exportamos, mas a aquela de que somos feitos – é fraca. Por isso, e por saber também que a vaidade é o nosso pecado preferido, não costuma poupar nem as instituições mais sólidas e respeitadas. E, quando elas sucumbem à tentação, não há carne que resista. Enfim, faltou-lhes separar a nossa proteína boa, do osso ruim, e agora estamos todos condenados a roê-lo.