A cada artigo ou estudo que leio sobre o futuro do trabalho, lembro das ultrapassadas leis brasileiras de "proteção" ao trabalhador. Contratar no Brasil é caro e arriscado. Paga-se muitos impostos e encargos sociais, custos altíssimos para demitir, além de processos na Justiça do Trabalho. Não há diferença nas leis para micros e pequenas empresas, que geram 52% dos empregos e não podem arcar com a excessiva burocracia e intervencionismo das leis. Contratar passou a ser a última alternativa. Muitos geradores de emprego examinam o corte de escalões e uso de tecnologia, antes de contratar. Ou se recusam a crescer e até vendem suas empresas. Isso ocorre no mesmo momento em que empregar pessoas está se tornando dispensável em muitas atividades. No Brasil, a complexa e desequilibrada "proteção" trabalhista trata os empregados como se ainda estivéssemos na ignorância e no ambiente discriminatório de 1943 (quando a CLT foi criada) e trata os empresários como se fossem bandidos.
Um amigo, empresário, recebeu a oferta para comprar uma rede de lojas e expandir os negócios. Só de pensar em mais funcionários e arcar com mais passivos trabalhistas, desistiu. Outro me contou que não quer crescer, pelo mesmo motivo. A Justiça do Trabalho, na maioria dos casos, dá "ganho de causa" aos funcionários, gerando enormes custos. Empresas menores até fecham. Hoje, um dos setores ameaçados é o das imobiliárias. Corretores, que sempre foram autônomos, agora pedem vínculo trabalhista. Alguns ganham, o que pode quebrar muita gente. Ou fazer a profissão desaparecer. A tecnologia está avançando muito nessa área. Está mais fácil substituir pessoas por máquinas e robôs. Já fui recebido por uma espécie de robô na recepção de uma empresa. Nos shoppings, já se paga o estacionamento em máquinas. Na construção civil, parte da obra vem pronta da fábrica, feita por robôs. Os bancos passaram parte das suas atividades às lotéricas, lojas, caixas eletrônicos, celular e internet. Com isso, continuam fechando agências e empregos. Parte do que fazem médicos e advogados já é feita por banco de dados. Empresas e funções já são contratadas fora do país. Está fácil usar talentos de qualquer parte do mundo. Com tanta proteção e risco, estamos gerando trabalho lá e desemprego aqui. Com os carros autônomos chegando, vão perder o emprego motoristas e gente de toda a cadeia ligada a carros.
O que fazer? Só alguns profissionais conseguem se reciclar e assumir outras funções. Legisladores, sindicalistas e Justiça do Trabalho precisam se debruçar urgentemente sobre o assunto para amenizar a burocracia, modernizar leis e decisões. Abrir mais espaços para negociações, contratos diferenciados e dedicar mais atenção às novas tecnologias. Se não tornarmos mais fácil, mais barata e menos arriscada a contratação de profissionais no Brasil, eliminaremos do mercado muita gente que precisa trabalhar. Por fim, uma esperança vem com Bruno Latour, um dos principais nomes do pensamento francês atual, especialista em tecnologia e filosofia da ciência: "fundamental é que as máquinas não vão substituir os seres humanos. Isso é uma utopia completa. Mas as máquinas vão liberar as pessoas de muitas tarefas".