O governo do Espírito Santo decidiu indiciar mais de 700 policiais militares pelo crime de revolta, que prevê penas de oito a 20 anos de detenção. O rigor da administração capixaba com a paralisação da polícia local, que gerou desordem pública no Estado, saques e mais de uma centena de homicídios em poucos dias, é exemplar para evitar o contágio do movimento de rebeldia em outras unidades da federação, como já se desenha no Rio de Janeiro, ainda que a ação dos familiares dos PMs não os tenha impedido de policiar as ruas.
A crise das polícias estaduais assumiu tamanha proporção, que o Ministério da Defesa preparou um gigantesco plano de contingência para evitar que o caos e a violência registrados no Espírito Santo se alastrem para outros Estados. Cerca de 30 mil militares treinados foram colocados de sobreaviso nos quartéis do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, caso seja necessária uma intervenção. A preocupação do Planalto é reagir com celeridade caso os governos estaduais recorram às Forças Armadas.
Tanto a punição dos amotinados quanto o aquartelamento preventivo de tropas federais configuram-se providências oportunas. Greves e manifestações de policiais são inaceitáveis, não apenas porque desrespeitam a Constituição, mas principalmente porque estimulam a violência num país que já tem dificuldade para contê-la rotineiramente. O caso do Espírito Santo, cujo desfecho permanece confuso porque as associações de classe querem interromper o movimento mas os familiares dos soldados continuam resistindo, já pode ser considerado um verdadeiro gol contra para os movimentos de servidores públicos inconformados com os planos de austeridade dos governos estaduais. A paralisação irresponsável passa para a população a ideia de que determinadas corporações não hesitam em desrespeitar a lei e em fazer dos cidadãos reféns de suas causas, sem considerar que é o dinheiro dos contribuintes que sustenta a administração pública.
Ninguém questiona a importância do trabalho policial, nem o fato de que os servidores da Segurança, como os demais, têm direito de receber seus vencimentos em dia. Porém, ao expor a população à criminalidade e transferir a responsabilidade da omissão para as próprias mulheres, os PMs capixabas que se comportam desta forma mostram apenas que não são dignos da farda que vestem nem da confiança dos cidadãos.