Tenho alertado sobre os graves prejuízos que a reforma da Previdência trará à população. Mas há um outro aspecto que gostaria de levantar aqui.
Os prefeitos e vereadores estão se conscientizando das enormes perdas que essa reforma fará à economia dos municípios.
A Previdência exerce um papel importantíssimo no processo de distribuição de renda. A cada mês, mais de 30 milhões de benefícios, tais como a aposentadoria e o auxílio-desemprego, são pagos pelo INSS.
Para que se tenha ideia do que isso significa, em mais de 70% dos municípios brasileiros, o valor total pago em função de tais benefícios vem ultrapassando, historicamente, o valor repassado pelo Fundo de Participação dos Municípios.
Estudos comprovam que cerca de 70% dos recursos originários do pagamento dos benefícios da Previdência são aplicados diretamente nas economias locais, tornando-as mais dinâmicas e contribuindo para tornar menos graves processos danosos, como, por exemplo, o êxodo rural e a favelização das cidades.
O prefeito Neco, de Travesseiro (RS), relatou que uma trabalhadora rural que hoje se aposentaria aos 55 anos, recebendo um salário mínimo por mês, com a nova regra deixará de receber R$ 150 mil, tendo em vista que terá que trabalhar mais 10 anos para se aposentar. Perdem também o comércio e a arrecadação municipal. Prejuízo para todos.
Juntemos as duas informações: o total de benefícios pagos e o fato de que os valores recebidos são direcionados, em sua maior parte, para o consumo local. Essa é a comprovação de que a Previdência é fonte primordial de redistribuição de renda. A intenção do governo é privatizar a Previdência e atender ao mercado financeiro, por isso está usando a tática de matar dois coelhos com uma cajadada só. De um lado, sufocar mais ainda os trabalhadores. Por outro, sufocar, também, a imensa maioria dos municípios, cujas economias são bastante dependentes, como vimos, dos recursos injetados pela Previdência.
A reforma é nociva ao país, aos Estados, aos municípios e, acima de tudo, às pessoas que acreditam no trabalho e fazem dele uma das razões de sua existência. É fundamental que a nossa gente crie comissões municipais para debater a reforma da Previdência. Esses fóruns teriam a participação de prefeitos, secretários, vereadores, políticos, empresários, sindicalistas, trabalhadores, donas de casa, estudantes, associações de bairro. A questão é suprapartidária.