Para sair da recessão, é preciso parar de se perguntar a todo momento quando de fato ela terminará, como se recessão se movesse sob força assombrosa própria e não pela sombra do nosso medo persistente. Para sair da recessão, é preciso se divertir com amigos, dia desses apostei com um deles um vinho: se o Brasil crescer em 2017, ele paga. Se não crescer, pago eu.
Para sair da recessão, é preciso criar e cocriar, marcar reuniões e aprovar investimentos, nutrir ideias com o carinho que merecem: conheço a anedota de uma senhora que recebia convidados e nunca servia suficiente comida, até que eles passaram a fazer "uma boquinha" antes dos jantares na casa dela. Então, numa noite, ela chamou um deles num canto e disse: "Não entendo! Sirvo cada vez menos comida e, mesmo assim, sempre sobra". As ideias são a comida, e nossos clientes podem estar jantando com outros anfitriões.
Para sair da recessão a gente precisa, sim, se preocupar com a relação Estados Unidos x China, o cenário das eleições na Europa e tudo o que analisam as revistas e os jornais; mas sabendo separar o malabarismo da realidade, a especulação do dado concreto, a confusão da pergunta inteligente, a nova fala da explicação. A gente precisa lembrar que não existe cadeado na porta, que tornozeleira não prende as pernas de quem trabalha duro e que se o concorrente ainda não se deu conta, cabe a nós darmos o passo, já que a hora é de acelerar.
Para sair da recessão, é preciso ler romances e aprender com quem ainda brinca, comprar a viagem independentemente do câmbio, arriscar nas empresas como fazem Starbucks e Google – que improvisam como Brad Mehldau no palco, direcionando dinheiro a ideias que nem mesmo George Orwell sonharia em ter. Buscar a fronteira da tendência, sob pena de se prender à armadura do tempo.
Para sair da recessão, é preciso crer no insight, dar passagem no trânsito e lembrar que uma flor custa R$ 5, e no fim das contas importa menos quem tinha razão em quanto o país cresceria do que ter amigos para dividir uma garrafa de vinho, brindando à diversão dos palpites furados.