Na última coluna, escrevi que estamos diante de um "vazio social", um descomprometimento da sociedade com seu próprio futuro.
Seria bom que refletíssemos a partir do Espírito Santo; não o da fé, o da crença legítima, mas a partir do Estado da Federação que ostenta "bons" índices de qualidade social e de gestão pública.
Policiais militares, há oito anos sem aumento salarial, fizeram uma greve contra o povo do Espírito Santo. A população, à deriva, foi entregue à bandidagem e à própria sorte. Uma matança digna de guerra que resultou em 144 mortos em 10 dias. Parte da população, sem o Estado na rua, saqueou lojas, supermercados e se entregou a uma barbárie quase envergonhada. Mulheres de policiais bloquearam quartéis e os PMs "fizeram de conta" que não podiam sair para proteger o povo. Ali, Elas, diante de um Brasil atônito, esvaziaram pneus e ministros.
É certo que o Estado colapsou, faliu, ajoelhou-se, definitivamente, diante das suas corporações.
Há pouco tempo, o Estado brasileiro levou 14 dias para recuperar um presídio com meia dúzia de metros quadrados. Por aqui, os assassinatos, com esquartejamentos etc, assumem proporções dantescas. Ou seja, há algo errado em nossas cabeças políticas.
Grande parte da população se demitiu da condição de cidadã e refugiou-se em casa para assistir BBB ou para destilar ódio através das redes sociais ou, ainda, para culpar os governos diante de suas próprias mazelas.
Alguém já disse que no Brasil não temos elites. Elites ostentam projetos de poder e lutam por eles. O que temos são ricos só interessados em acumular, custe o que custar.
Como sociedade, estamos sendo incapazes de detectar o alto nível de tensão social para onde caminhamos e, com uma classe média empobrecida e a desigualdade aumentando mais e mais, a barbárie chega às raias do Espírito Santo.
Precisamos discutir o Estado brasileiro sem pudores e sem moralismos que deixam em segundo plano o ambiente dos interesses legítimos. Precisamos revisitar as corporações do andar de cima, que ganham polpudos aumentos e gostosos penduricalhos, debocham de professores, policiais, profissionais da saúde etc, pois, no "andar de baixo", a maioria (sobre)vive com salários de fome, recebidos em solenes parcelas. Isto quando recebem.
Para quem acha que esses acontecimentos estão distantes de nós, recomendo acompanhar de perto o noticiário e prestar atenção em algumas análises antipáticas e longe dos lugares-comuns. A bola está com a sociedade.
Algo está muito errado em tudo isso.
Ou tomamos as rédeas e por elas nos responsabilizamos como sociedade ou podemos apelar para que o Espírito Santo rogue por todos nós!