Embora todos os partidos políticos possuam órgãos específicos para zelar pela ética e pela obediência dos filiados a estatutos e regimentos internos, pode-se contar nos dedos os casos de utilização desses mecanismos para avaliar investigados, denunciados e réus de ações penais. No âmbito da Operação Lava-Jato, em três anos de investigação, já se conhecem 86 integrantes de 10 legendas como protagonistas de denúncias e processos penais, mas nenhum foi sequer advertido por suas agremiações partidárias.
Os conselhos e comissões de ética atuam mais para garantir o cumprimento de regras internas do que para punir a corrupção. A legislação que rege a existência dos partidos políticos prevê a responsabilização dos infratores, garantindo-lhes, obviamente, amplo direito de defesa. Mas as agremiações partidárias só agem quando o escândalo assume proporções insustentáveis, caso de condenados pela Justiça ou quando ocorre forte rejeição interna dos próprios filiados. Não é incomum que os líderes de partidos atingidos pelas investigações prefiram suspeitar do Judiciário a reconhecer a culpa de seus correligionários.
Desleixo semelhante pode ser observado quando os partidos políticos arregimentam candidatos para disputas eleitorais, na maioria dos casos colocando a popularidade e o potencial de votos do pretendente a cargo público na frente do currículo, dos valores morais e da reputação. Diante de tal comportamento, não há como estranhar a rejeição crescente da população à classe política, como comprovou recente pesquisa do instituto Ipsos Brasil sobre percepção de imagem dos dirigentes do país. Entre 20 personalidades avaliadas, as três de maior aprovação integram ou integraram o Judiciário: o juiz Sergio Moro, o ministro aposentado Joaquim Barbosa e a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia. Abaixo deles estão os políticos mais conhecidos, vários deles com índices altíssimos de rejeição.
Verifica-se aí uma deformação preocupante da administração pública no país. Os brasileiros aplaudem o Judiciário e repudiam tanto o Executivo quanto o Legislativo, poderes diretamente responsáveis pela governabilidade. Nesse contexto, é imprescindível que os partidos políticos revisem suas atuações e desenvolvam estratégias moralizadoras, contribuindo assim para o resgate da confiança da população na democracia representativa.