Todo ano é a mesma história: ruas esburacadas, inundações, problemas com coleta de lixo, cães abandonados vagando à beira-mar, entre outros transtornos aos quais são submetidos os veranistas nas praias do litoral norte do Rio Grande do Sul.
Não seria especulação considerar que as prefeituras municipais das cidades praianas estão interessadas em fazer seus eleitores minimamente satisfeitos. Sendo assim, qualquer melhoria é feita para impactar positivamente nesse público. Os veranistas, que por sua vez povoam, no verão, as "praias desérticas" que ficam entre as cidades praianas, não servem para nada a não ser para pagar impostos sobre seus imóveis mofados (contendo seus eletrodomésticos enferrujados) e movimentar o comércio local.
Por que as inúmeras praias entre Torres e Capão da Canoa, por exemplo, permanecem caóticas? Com incontáveis casos de arrombamentos e depredações fora da temporada de verão? Porque os veranistas, cuja contribuição para o orçamento municipal das cidades praianas é indispensável, não têm o poder de voto nesses municípios (a maioria, evidentemente, é eleitor nos municípios em que reside na maior parte do ano).
Os gestores dos municípios que possuem praia em seu território parecem ignorar que esses sujeitos, aos quais chamamos veranistas, possuem nessas praias também uma casa, bens e afetos. Portanto, não deveriam ser tratados como estorvo por reivindicarem conserto de calçamentos destruídos pelas intempéries, saneamento e segurança pública.
Se no Brasil um indivíduo, no exercício de seus direitos de eleitor, já não goza de prestígio onde possui residência fixa, que dirá onde é considerado uma presença inconveniente. Em um local onde não poderá dar o devido retorno (eleitoral) para os senhores prefeitos e vereadores.
Se não é possível modificar a legislação eleitoral, ainda há tempo para uma sensibilização da gestão pública no Litoral Norte: considerando que alguns novos gestores estão assumindo as prefeituras neste ano, esperaremos, com ansiedade, mais respeito em relação às pessoas que passam a temporada de verão em um município em que não têm o direito de escolher o gestor, mas onde investiram seus sonhos, tempo e suor.