Na última quarta-feira, estive em uma formatura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a melhor que temos em terras gaúchas. Havia um aluno estrangeiro dentre os formandos. Tocaram o hino brasileiro, o hino rio-grandense (mesmo em uma instituição federal) e o hino do país de origem do estudante, como se fosse uma grande coisa. Dois dos discursos feitos por gestores da instituição enfatizaram suas raízes porto-alegrenses e gaúchas.
Esquecemos que universidade, para estar minimamente no radar hoje em dia, precisa ter gente do mundo todo em todos os níveis: graduação, pós-graduação, docência e gestão acadêmica. Precisa estar conectada com as vanguardas mais diversas espalhadas pelo globo. O ideal seria não precisar tocar hino algum.
Converso diariamente com empreendedores. Seus mercados-alvo, quando não são locais, são nacionais, e, nesses casos, aparece um medinho de ir a São Paulo, como se um voo de 90 minutos fosse barreira relevante.
Ou então com profissionais bem-sucedidos no setor de investimentos, que já foram responsáveis por levantar centenas de milhões de reais para empresas gaúchas. Suas ambições? Dominar o mercado local de transações dessa natureza. Esquecemos que o fluxo de capitais é global, que há players nacionais e internacionais que têm a vantagem de serem agnósticos em relação ao destino geográfico do dinheiro.
Todos os dias me pego tentando entender o que há de errado conosco que nos faz ver no Rio Grande um fim em si mesmo. Seria esse um sentimento nobre ou uma restrição desnecessária? Um problema frente ao mundo globalizado ou uma virtude frente à recente emergência de um novo conservadorismo global?
Penso nisso mais como uma oportunidade para estabelecermos relações econômicas glocais (com 'c' mesmo). Formar redes de pessoas no nosso território que criem valor e, ao mesmo tempo, estejam conectadas com mercados globais. É a saída para conciliar nosso instinto gregário gauchesco com a realidade econômica que está posta. Para isso, o primeiro passo é abandonar nosso bairrismo e estar disposto a ter profundas relações de negócios com o mundo todo.