Se quiséssemos resumir o Brasil de 2016 em uma frase, poderíamos dizer que o país foi a Operação Lava-Jato com um impeachment no meio e crises por todos os lados. A estagnação econômica destruiu o governo Dilma e ameaça o governo Temer, que, como o anterior, também tem integrantes e apoiadores investigados por envolvimento com a corrupção. Porém, mesmo com a inquestionável degradação da política e o consequente desencanto dos brasileiros com seus representantes na administração pública, as instituições democráticas saem fortalecidas deste ano de sobressaltos e incertezas.
Considerando-se a conjugação da crise moral com a econômica, o impeachment foi uma medida necessária para o país, embora assentada sobre bases jurídicas pouco consistentes. Dilma Rousseff perdeu as condições políticas para governar e o Congresso, movido por interesses políticos e partidários mas respaldado por manifestações populares, optou soberanamente pelo afastamento da presidente eleita em 2014, encerrando o ciclo petista de comando do país, iniciado por Luiz Inácio Lula da Silva, que também teve seu patrimônio político corroído por denúncias que o envolvem. Causou estranheza, no país e no Exterior, que 422 parlamentares (entre o Senado e a Câmara) tenham decidido a saída de uma presidente escolhida por 54 milhões de brasileiros. Mas é assim que funciona o sistema de representatividade numa democracia e a decisão foi legitimada pelo Supremo Tribunal Federal.
Michel Temer, na condição de vice-presidente, assumiu o poder com o resguardo da Constituição mas sob desconfiança da população, especialmente devido às articulações de seu partido para afastar a petista. O processo de impeachment, chancelado pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, só teve curso por conta do posicionamento vingativo e revanchista do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que, mais tarde, acabou tropeçando nas suas próprias malfeitorias. Em consequência, passará o Réveillon na cadeia, assim como empresários, banqueiros e políticos que também foram flagrados como beneficiários do propinoduto da Petrobras.
A disputa por poder não se restringiu ao comando do país. Até o juiz Sergio Moro, quase um herói nacional por sua coragem e firmeza no enfrentamento da corrupção, incorreu em excessos de autoridade, chegando a ser admoestado pelo ministro Teori Zavascki. Alguns ministros do Supremo também ultrapassaram limites habituais, interferiram em outros poderes e entraram em conflito na Corte. Mas concordaram em afastar da linha sucessória o presidente do Senado, Renan Calheiros, que desconsiderou ordem judicial, usou o cargo para proteger os próprios interesses e chega à virada de ano entre os vilões do país.
Essa breve retrospectiva da política nacional em 2016 deixa lições valiosas para os brasileiros enfrentarem os desafios de 2017 mais fortalecidos e esperançosos.