A economia, como qualquer ciência que tenta entender o que ocorre e busca planejar e antever o que virá, é sempre sujeita a eventos aleatórios ou imprevisíveis.
Ninguém antecipou a queda das torres gêmeas em Nova York, o conhecido 11 de setembro e que gerou um impacto definitivo na sociedade moderna. O comportamento mundial mudou, abalando hábitos e costumes, quando a preocupação com a segurança se tornou uma paranoia universal, sendo incorporada ao dia a dia de todos.
Igualmente, no Brasil recente, a imprevisibilidade é uma realidade. O desastre econômico atual era esperado, dada a heterodoxia do caro populismo fiscal praticado nos últimos anos, quando a então presidente acabou perdendo o controle da economia e de sua base política, gerando profunda recessão, com milhões de desempregados e empresas em dificuldades. Evento aleatório, o impeachment impactou e foi visto como uma forma de recuperação do controle político e aguardado como um caminho para a implementação do conjunto de reformas que criaria condições para fazer o país se reequilibrar e voltar a crescer.
A sequência de reformas, com a aprovação da PEC dos gastos, o reequilíbrio da Previdência, um programa de concessões ampliando o nível de investimentos, o controle da inflação e a redução da taxa de juro se inserem em um conjunto lógico e necessário. Apesar de seu racional positivo, cresceu a incerteza política e institucional, o que potencializou a imprevisibilidade.
As atuais disputas no Legislativo, os embates entre os poderes, os efeitos ainda não conhecidos do conjunto de delações premiadas, com o destaque da Odebrecht, permitem concluir que a crise política e o nível de tensão hoje são semelhantes ao momento pré-impeachment, o que estanca tudo. Agora, persiste o inesperado como probabilidade forte, o que aumenta a incerteza de todos, explicando a dificuldade cada vez maior de vermos avanços na economia, que se mantém paralisada.
O resultado parcial das delações premiadas já conhecidas e sua extensão estarrecem, bem como a dimensão que a corrupção alcançou nas últimas décadas. As módicas multas que vêm sendo aplicadas a algumas destas empresas e as penas impostas a seus dirigentes denotam complacência e mesmo resignação. As multas são irrisórias se comparadas ao que foi acumulado por estas ao longo dos anos, e as penas são incompatíveis com o tamanho do estrago causado, não apenas às empresas públicas afetadas, mas principalmente no tecido econômico, especialmente pelas consequências infligidas às empresas e aos desempregados.
O país precisa passar por um processo de depuração e evoluir como nação, quando as irresponsabilidades econômicas e a complacência para com a corrupção serão deixadas para o passado. Não há planejamento ou projeções econômicas que resistam a um quadro como o atual.