Já escrevi nesta coluna sobre o papel que algumas cooperativas tiveram, e ainda têm, em promover o desenvolvimento de territórios, e de como essas cooperativas utilizam a inovação para realizar essa tarefa. Trata-se de um fenômeno altamente negligenciado quando estudamos desenvolvimento e inovação no Brasil.
Há, no entanto, uma falha nesse sistema: os modelos de governança empregados nessas organizações são, em grande medida, ultrapassados e concentradores de poder.
Precisamos observar com carinho um movimento global, chamado cooperativismo de plataforma, que nasceu como uma resposta à fragilização dos trabalhadores na chamada economia do compartilhamento. Lembro-me sempre de uma conversa que tive com um motorista do Uber que esperou seis horas por uma corrida no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, 18 horas depois de sair de casa para trabalhar.
Pois agora há cooperativas criando plataformas digitais concorrentes do Uber – extremamente transparentes e com novos modelos de governança – para evitar esse tipo de situação e empoderar esses trabalhadores.
Sim, esse é um movimento de esquerda. Mas é importante deixar claro que estamos falando de uma nova esquerda, bastante diferente das que estamos acostumados, porque rejeita a concentração de poder em estruturas partidárias e oligopolísticas.
Assim como há plataformas cooperativas que concorrem com o Uber, esse fenômeno tem acontecido em outros setores. Na arte, temos a Resonate, de músicos e ouvintes, e a Stocksy, de fotógrafos. No setor financeiro, a Robin Hood Cooperative, uma gestora de fundos onde cada cotista é um cooperado. E a Slow Money, que permite investir em pequenos produtores agrícolas perto de casa.
No Brasil, onde o conceito de cooperativa é altamente difundido, com alta capilaridade ao longo do território nacional, temos um terreno fértil para esse tipo de plataforma. Pode vir a ser um componente de um novo modelo de desenvolvimento, muito mais próximo da dinâmica que já existe por aqui.