Por que os Rockefeller, os Carnegie e outros bilionários financiam tantos projetos de caráter social no mundo todo? Por que George Soros, conhecido por apoiar processos de abertura de antigas repúblicas soviéticas, financiou, por exemplo, o Mídia Ninja (uma organização reconhecidamente de esquerda) no Brasil? Qual a agenda oculta dessa grande figura? Seria apenas uma busca por mais oportunidades de investimento lucrativas?
Creio que não. Soros é conhecido pelos episódios em que misturou política e especulação financeira. Há algo aí, no entanto, além de sua capacidade de influenciar o cenário político de diversas nações para obter mais lucros. Soros busca uma maneira de justificar – a si mesmo – sua existência nesse planeta. E utiliza meios sofisticadíssimos para fazê-lo. A Open Society Foundations, organização fundada por ele no final da década de 1970, é a materialização dessa sofisticação. Um mecanismo poderosíssimo de realização de sua agenda, de seus valores pessoais, no mundo inteiro.
Essa história é importante para entendermos quão conectados estão nossos processos de significação pessoal e nossa atuação política. Significado é a segunda moeda que move o mundo, além do dinheiro, e ela está muito associada a poder. Trata-se de uma busca que temos por ver o mundo do jeito que imaginamos que ele deveria ser.
Voltando à pergunta sobre o Mídia Ninja, entendo perfeitamente o nexo entre a organização e a missão da Open Society: construir sociedades tolerantes cujos governos estejam abertos à participação de todos. A história de Soros e a cortina de ferro não é uma história contra a esquerda, mas contra o autoritarismo e a privação de liberdades, afinal, sua família também escapou do nazismo.
É tempo de reflexão. Hora de reavaliar nossas experiências de 2016 e projetar mudanças. Um daqueles raros momentos em que revisitamos nossos princípios de maneira mais profunda para entender o que está por trás de nossas angústias. O grau de profundidade de cada reflexão, em cada lar neste planeta, está diretamente relacionado ao grau de complexidade das experiências sociais e profissionais que cada um já vive. É difícil imaginar um mundo com 7 bilhões de Soros, mas talvez possamos chegar um pouco mais perto disso a cada ano, na medida em que permitimos que mais gente deposite sua inventividade e subjetividade naquilo que realiza.