A prosperidade proporcionada pelo capitalismo na versão neoliberal incorporou no imaginário de todas as classes sociais um conjunto de conceitos próprios das ideias conservadoras, como os valores da família patriarcal, a obediência às leis e à ordem vigentes, o culto ao individualismo, o valor do trabalho metódico e, como complemento, a alienação à política. A estratégia neoliberal encaixada por marteladas midiáticas no subjetivismo dos setores sociais de baixa renda construiu reflexamente o pensamento de que "aceitamos totalmente a lógica do capital, tão poderosa que com ela não podemos nem devemos nos meter".
Resulta que hoje as crises financeiras mundial e nacional criaram uma situação social de governabilidade que tenta legitimar as políticas de cortes nos gastos sociais, na assistência à saúde, nos investimentos culturais e científicos, no estabelecimento de aposentadorias tardias, de maior jornada de trabalho e de diminuição de salários. Em outras palavras, trata-se do desmantelamento do Estado de Bem-Estar Social, criado e executado pelo liberalismo econômico após a II Guerra, para combater as ideias socialistas e os regimes comunistas em ascensão em todo o mundo. Este é um fato histórico objetivo e real resultante da lógica do capital, que incluía mesmo tentativas de distribuição da riqueza dentro dos limites aceitáveis para o sistema, mas que com o desenrolar dos acontecimentos, as crises estruturais e inevitáveis do capitalismo desembocaram, como sempre, na corrupção, que comove tanto a classe média, que apavorada diante das perdas sociais e econômicas aceita e colabora ativamente na erupção de regimes de força de perfil tipicamente fascista.
Enfim, alguns analistas políticos e certos magistrados fartamente midiatizados sentem-se decepcionados com o capitalismo neoliberal, mas, na realidade o que sofrem é uma desilusão com o entusiasmo ético-político que não tem espaço no capitalismo "normal", o qual não respira nem sobrevive sem o oxigênio da corrupção endêmica que o alenta.