A sociologia e a economia mostram que a vida é feita de ciclos. E nós estamos, em 2016, no auge desta grande mudança de ciclo político, econômico, social e em diversas áreas. A transição que vivenciamos não é uma escolha. É uma circunstância da nossa época. Queiramos ou não, ela está aí, à nossa frente. É o momento de refletirmos o que passou e projetarmos o tempo que se inicia.
Recordo de uma época em que havia partidos com P maiúsculo. Hoje temos espasmos de partido, alguns esforços que são resistentes exceções. As agremiações perderam significado na vida social. Antes, a lei se impunha com primazia. Hoje, uma caneta, não raro, vale mais do que as instituições e todo o processo democrático.
A Constituinte gaúcha me vem à mente. Na escrita da Carta Magna, buscamos construir um modelo de Estado sustentável, com prioridade para o essencial. Jamais se quis o aparato público que aí está: pesado, ineficiente e pouco resolutivo. Queríamos um Rio Grande e um país parceiros da livre iniciativa, não adversários dela. Que estendesse a mão para quem precisa, não virasse as costas na hora de prestar serviços de saúde e educação.
A raiz disso está na modelagem de Estado que fomos criando com o passar dos anos. Grupos de pressão se sobrepuseram aos cidadãos comuns. Corporações de todos os setores venceram a batalha política. O bem de uns se impôs ao bem do povo. Algo se perdeu e precisa ser urgentemente resgatado.
Chegou o momento de reformas profundas. Não sem valorizar os aprendizados acumulados, mas olhando para frente, com destemor e capacidade criativa. Uma nova estrutura de Estado e de política pede passagem. Com valores, gestão, transparência e compromisso social. Com mais ousadia, desapego e olhar global, que concilie capital e trabalho.
Quem atravessa o mar tortuoso desta mudança histórica com medo ou sofreguidão corre o risco de ficar pelo caminho. Quem só olha para frente e esquece o que passou também não vai muito longe. Quem realmente se fortalece nesta virada são aqueles que se jogam ao futuro – com discernimento para fazer escolhas e coragem para desenhar os novos caminhos que a história impõe. E esta travessia ninguém poderá fazer por nós.