As autoridades, de qualquer nível, não podem e não devem, em hipótese alguma, questionar as instituições democráticas, especialmente os poderes constituídos da República, especialmente o Poder Legislativo que é o verdadeiro e legítimo representante do povo. E muito menos ameaçá-lo ou emparedá-lo em nome da mesma democracia. Nenhuma instituição pública ou autoridade tem legitimidade para pressionar ou constranger o Poder Legislativo. E sem um Poder Legislativo livre e independente não existe democracia, nem Estado democrático de direito.
É inadmissível, por outro lado, que qualquer crítica que se faça aos métodos, erros e equívocos ao longo das investigações já se acuse de ser contra a Lava-Jato, ou de querer dificultá-la, destruí-la ou, o que é pior, de ser a favor da corrupção!
Pode-se imaginar que haja alguém, de sã consciência, que não seja contra a corrupção, ressalvados, claro, os corruptos?!
No dizer corajoso e culto ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, obrigar o Congresso Nacional aprovar, na marra, as supostas 10 medidas contra a corrupção configura um verdadeiro AI-5 do Ministério Público, sob o argumento falacioso de combater a corrupção. Aliás, induzindo a erro quase dois milhões e meio de pessoas favoráveis ao combate à corrupção, que assinaram, sem saber o conteúdo do que seria proposto a título de combate a corrupção.
Anular votação de mais de 400 parlamentares com uma liminar, monocrática, impedindo que os representantes do povo deliberem livremente seria o quê? Interferência monocrática no processo legislativo, violando a liberdade do parlamento, o poder mais representativo da democracia, eis que eleito pelo povo e o representa? Afinal, que país é este? Será uma "forma branca" de fechar o Congresso Nacional, como repetiu o ministro Gilmar Mendes? Primeiro, mandam projetos flagrantemente inconstitucionais, depois, forçam parlamentares a aprovarem tais projetos visitando gabinetes, assediando nos corredores, invadem as igrejas "pregando a boa nova"; quando mais de 400 parlamentares deliberam referidos projetos, anula-se tudo, monocraticamente, por que não poderia decidir como decidiu?! Não será isso retaliação?!
São questões para as quais a sociedade exige resposta, que precisam de uma explicação racional, moral, ética e constitucional! Afinal, todos os integrantes da administração pública não são iguais perante, e a lei e a Constituição Federal não valem para todos?