O primeiro ponto que se deve considerar no episódio das ocupações de escolas e universidades é o de que os estudantes têm, sim, o direito de se manifestar a respeito de mudanças no ensino, pois são a razão do processo educacional. Partindo-se dessa premissa, que inclui a rejeição de ações truculentas tanto de parte dos próprios manifestantes contra colegas quanto de agentes públicos para retirá-los, é impositivo que se faça o debate a respeito do método utilizado, de sua eficácia e dos prejuízos causados a terceiros.
Depois dos transtornos provocados no segundo turno eleitoral, exigindo a transferência às pressas de seções de votação, o adiamento da prova do Enem para no mínimo 191 mil estudantes no país demonstra que as consequências das ocupações de escolas e de instituições universitárias já não se limitam ao fato de deixar alunos sem aulas. Por mais que líderes das ocupações possam considerar justa sua luta contra a PEC do teto de gastos e por mais debate sobre a reforma do Ensino Médio, o fato é que o direito de uma minoria protestar vai até onde não prejudica o direito de outros segmentos da sociedade.
No caso, as ocupações já ultrapassaram o limite do bom senso, fazendo com que o protesto precise ser repensado. Afinal, alunos estão sendo privados de aulas, eleitores tiveram sua rotina perturbada e, agora, milhares de estudantes precisarão esperar quase um mês para fazer a prova. E isso sem falar no custo imposto pela realocação de seções eleitorais e de salas de aula, a ser bancado por toda a população.
A ocupação prolongada de instalações escolares corre o risco de se transformar em um ato infantil, inconsequente e danoso aos interesses coletivos se não evoluir para o diálogo concreto com as autoridades, incluindo a apresentação de propostas que levem os governantes e legisladores a aperfeiçoar as reformas em andamento.