A demissão do ministro Geddel Vieira Lima podia ter sido menos desgastante para seu "amigo fraternal" Michel Temer se o presidente tivesse agido com mais celeridade e com menos condescendência em relação ao assessor acusado de tráfico de influência. Mas o governo demorou a se dar conta de que a população não aceita mais governantes e representantes políticos que se valem de seus cargos e da proximidade com o poder para defender interesses pessoais. Todos os que tentaram segurar Geddel no cargo de ministro da Secretaria de Governo, incluindo-se aí as principais lideranças da base governista no Congresso, incorreram neste equívoco de achar que sua reconhecida habilidade de articulador político era mais importante do que ter uma conduta republicana. O Brasil não quer mais retornar às velhas práticas políticas que a Operação Lava-Jato está ajudando a erradicar.
O episódio que derrubou dois ministros de uma só vez chega a ser prosaico na sua dimensão real, mas carrega forte simbologia ética. Geddel Vieira Lima pressionava seu colega Marcelo Calero, do Ministério da Cultura, para liberar um empreendimento imobiliário embargado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Salvador, no qual o ministro da Secretaria de Governo comprara um apartamento. Já seria inadequado um tema desses ocupar o tempo de dois ministros, mas o assunto acabou chegando ao presidente Michel Temer, que, segundo o denunciante, teria interferido em favor de Geddel. Calero demitiu-se, mas saiu atirando, e acabou levando o assunto à Polícia Federal, supostamente com gravações de suas conversas com outros ministros e com o próprio presidente. Só então o governo resolveu agir.
Perdeu tempo e credibilidade. Depois do traumático impeachment da presidente Dilma Rousseff, motivado pela crise econômica e pela conivência de seu governo com a corrupção, os brasileiros esperam mais eficiência e honestidade dos políticos que assumiram o poder. O governo Temer não pode ser um governo de amigos, como refere o ministro tombado em sua carta de demissão. Tem que ser um governo de compromisso com os interesses maiores da nação, com a luta implacável pela superação da crise e, principalmente, com a decência. No Brasil atual, não há mais espaço para políticos que usam cargos e mandatos em benefício próprio ou para constranger aqueles que investigam imoralidades e as denunciam.