Enquanto por aqui ainda se prende delinquentes em delegacias, viaturas policiais e camburões, prisioneiros quase conquistam o Grammy, no país mais pobre do mundo, Malawi, sudeste da África. Foi na premiação referente a 2015, quando os presidiários africanos chegaram à finalíssima do grande troféu da música mundial, concorrendo, entre outros, com o brasileiro Gilberto Gil. O importante não foi o sucesso dos músicos e cantores que cumprem pena na Prisão Central de Zomba. O que vale ainda, quase um ano depois, é a continuidade do Zomba Prison Project, que reúne homens e mulheres condenados a penas de muita gravidade, como a prisão perpétua, por exemplo, em torno de aulas de dança, canto e ritmo. Os professores e regentes são os carcereiros.
Zomba é uma penitenciária de segurança máxima, superlotada, construída nos tempos da dominação britânica, então para 340 presos. Hoje, com instalações precárias e deterioradas, abriga 2000 homens e mulheres prisioneiros. Apesar disso, desde 2013 o produtor americano Ian Brennan e a
documentarista italiana Marilena Delli dedicaram-se a filmar e gravar o que lhes pareceu surpreendente no começo: a música segura a barra por lá. Todos convivem muito bem, cantando e dançando. Pelos títulos das músicas que os presos de Zomba gravaram, pode-se tirar uma base dos sentimentos reinantes entre eles: "Ouça-me", "Por favor, não matem o meu filho", "Não me odeie", "Últimos desejos", "Adeus a todos os meus amigos", "Eu não mato mais", "Eu estou só", "Perdão" e "Vamos". Você pode curtir facilmente os clipes dessas canções, basta digitar Zomba Project que o tio Google irá conduzir sua busca.
O que pretendo é mostrar que há soluções para o penitenciarismo, mesmo no pior dos cenários. A condução da execução das penas, as medidas efetivas de ressocialização, a cultura e o trabalho são diretrizes indispensáveis. E tudo isso tem acontecido em Zomba, na África, mas também em várias casas prisionais brasileiras, como é o caso das experiências com algumas penitenciárias em Minas Gerais.
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