O tema é instigante e polêmico. Quase interminável. Dezenas de propostas foram apresentadas em torno dele ao longo das últimas legislaturas. A natureza de ser facultativo ou obrigatório fomenta debates inconciliáveis a respeito do exercício do voto. No âmbito da reforma política que não sai do papel, esta é a única questão que não se refere às instituições ou ao seu funcionamento, mas ao sujeito, no caso, o eleitor.
Os defensores da facultatividade referem-na como uma demonstração de evolução política ao permitir que o eleitor manifeste o seu desinteresse eleitoral. Sublinham que a obrigatoriedade implica uma contradição incompatível com a democracia. Acrescentam que a facultatividade assola mais os políticos que os cidadãos porque, segundo apontam as pesquisas, a população brasileira não só apoia o voto facultativo como repudia o obrigatório, o que poderia determinar o encerramento de carreiras políticas amparadas no fisiologismo.
Aqueles que se assumem contrários à adoção do voto facultativo referem que o obrigatório é essencial à vitalidade do Estado porque a cidadania impõe diversas obrigações, inclusive votar periodicamente para a escolha de representantes. Argumentam que o voto é uma expressão tipicamente republicana cuja natureza determina ao eleitor a irrenunciável condição de partícipe na escolha dos governantes. Invocam pesquisas de preferência cujos resultados mostram que nos países em que o voto não é obrigatório, os votantes, em sua maioria, são os mais escolarizados e com mais tempo para se ocupar da vida pública, enquanto que os pobres, ao não participarem ativamente das escolhas dos poderes públicos, tornam-se ainda mais excluídos, o que estabeleceria um círculo vicioso.
Entre as duas correntes, há um elemento raramente citado nas análises: a corrupção. O sistema em vigor, além de excludente e exaurido, apresenta índices robustos e crescentes de mercancia eleitoral. Esses indicativos, lamentavelmente, evidenciam que o país não dispõe de condições para tornar o voto facultativo, ao menos neste momento.