Numa eleição caracterizada pela rejeição inequívoca de parcela expressiva de eleitores aos políticos e aos partidos que os abrigam, o mais contundente voto de desconfiança foi dado às agremiações de esquerda, notadamente ao Partido dos Trabalhadores, que comandou o país nos últimos 13 anos. As derrotas nas capitais e em redutos históricos da agremiação, como as cidades do ABC paulista, evidenciaram o desgaste do PT por conta do envolvimento de lideranças importantes do partido com a corrupção e também devido ao agravamento da crise econômica na sua administração.
Pelas escolhas que fizeram, os eleitores deixaram claro o que querem e o que não querem. Ao desprezar algumas teses que dão face pública à esquerda brasileira, como o Estado paternalista, o descontrole de gastos, o inchaço das máquinas administrativas, a submissão às corporações de servidores que exigem reajustes sem fim, os cidadãos e contribuintes sinalizaram para a urgência de reformas que garantam o equilíbrio fiscal e a retomada do desenvolvimento econômico. Não se trata apenas de uma guinada ideológica movida por ideias conservadoras, como tentam sugerir os derrotados nas urnas. Trata-se, isto sim, de um movimento natural em busca da correção de políticas equivocadas e desvirtuadas.
O discurso das esquerdas, que ganhou meritoriamente espaço nas urnas ao longo da última década e meia graças a avanços sociais reconhecidos, foi substituído por anacrônicas teses anticapitalistas e por uma delirante conspiração midiático-jurídica, criada com o visível propósito de proteger lideranças partidárias das acusações de corrupção. Em vez de reconhecerem erros e condenarem os responsáveis pelas práticas criminosas, alguns líderes de esquerda procuraram assumir o papel de vítimas. O eleitorado não se deixou levar por um discurso que ignora crimes e desconsidera a decepção provocada pelo envolvimento em irregularidades por parte de antigos arautos da moralidade.
Se a omissão de parcela expressiva do eleitorado indica descrédito na classe política, os votos válidos também não deixam dúvida de que os brasileiros querem trocar a política assistencialista, intervencionista e clientelista da esquerda pela proposta de austeridade e retomada da atividade econômica dos eleitos. Pela vontade dos eleitores, devem sair de cena a flexibilidade ética em nome de um projeto de poder, a tolerância demasiada com a criminalidade e as contabilidades criativas que afundaram as finanças públicas, para dar lugar à austeridade, às reformas do Estado e ao rigor na segurança.
Ainda assim, o atual momento político é também uma oportunidade para a esquerda redescobrir seu discurso e se renovar. Pela pluralidade e pela democracia, o Brasil precisa de uma esquerda moderna e ética, que faça contraponto ao conservadorismo excessivo e autoritário, sempre de plantão em momentos de crise.