A disputa em segundo turno das eleições municipais em algumas cidades brasileiras está deixando evidente que a legislação eleitoral ainda não atingiu o ponto ideal no que se refere ao interesse dos eleitores e às necessidades dos partidos e candidatos. Avançou bastante com a chamada minirreforma política, é verdade, pois a redução do período eleitoral e da propaganda gratuita em rádio e televisão, a proibição de doações empresariais e as restrições à colocação de placas, pinturas e cartazes em bens públicos baratearam as campanhas e aliviaram a população de excessos poluentes. Mas o tempo de rádio e televisão estabelecido para o segundo turno – dois períodos diários de 20 minutos, além de 70 minutos para inserções de 30 segundos – ainda se revela demasiado, tanto que os candidatos vêm encontrando dificuldades para preenchê-los sem repetições e agressões mútuas. É tal o desconforto, que em 20 das 54 cidades brasileiras com segundo turno os próprios candidatos propuseram acordo para reduzir o tempo de exposição.
O corte de financiamento provocou uma mudança significativa nas campanhas eleitorais e no discurso dos candidatos. Sem poder recorrer aos especialistas em marketing, que produziam programas atrativos e ofereciam ideias prontas, baseadas em pesquisas prévias, os pretendentes a cargos públicos viram-se diante do desafio de conquistar o eleitorado com seus próprios recursos. Como nem todos têm o que dizer, o tempo disponibilizado pela legislação ficou excessivo para eles – e mais ainda para ouvintes e telespectadores. Mais do que a falta de dinheiro, há visível falta de ideias. Some-se a isso a inquestionável onda de rejeição à política e aos políticos, gerada pela Operação Lava-Jato e por sucessivos escândalos de corrupção que vêm ocorrendo no país.
Fica em aberto, portanto, um novo desafio para legisladores, para a Justiça Eleitoral e para os próprios postulantes a cargos públicos: encontrar o formato ideal para reconquistar o interesse do público.