O capitalismo é o sistema financeiro ideal para as inovações. Através dele, a tecnologia se desenvolve atendendo a necessidades humanas. Lembro-me de iniciar na profissão de engenheiro eletrônico participando em projetos que desafiavam a solução do computador no Centro de Processamento de Dados (CPD) e concebiam o que, naquela época (fim dos anos 1970 e início de 1980), era uma espécie de heresia: o computador pessoal, uma máquina para cada pessoa.
Sob o ponto de vista industrial, para montar esse produto precisavam-se de componentes eletrônicos do tipo microprocessador e memória. Já eram fundamentados em circuitos semicondutores e empresas no Vale do Silício tomavam a dianteira nesse tipo de tecnologia fabricando os insumos para aquela máquina mágica que iria ser produzida aos milhões. Veio assim a evolução dos laptops e, depois, os notebooks. Em seguida, no início deste século, numa visão genial do criador da Apple, o telefone celular deu lugar para o smartphone, um equipamento somente possível de ser fabricado também pelo nível tecnológico dos semicondutores que o compõem.
Na última década, esses aparelhos, na base de uma unidade por habitante, são quase imprescindíveis para os indivíduos, já que a função mais básica, a de telefonar, passa despercebida diante das inúmeras outras funções e aplicativos que o tornam absolutamente indispensável. Agora se fala na internet das coisas, em que, para cada habitante, com seu smartphone pronto para se conectar, há um número de coisas conectáveis: relógio, roupas, materiais esportivos, ou coisas para a casa, para o trabalho. Multiplica-se aqui, de forma geométrica, o potencial de se fabricar circuitos eletrônicos baseados em chips de silício para todas essas coisas.
O potencial é maior do que o que se estabelece quando pensávamos num mercado igual ao de toda a população do mundo para os smartphones. Aqui, cada habitante vai ter pelo menos uma dezena de coisas, o que justificaria dizer que estamos pensando num mercado, no mínimo, 10 vezes maior. Alguma dúvida do potencial dessa indústria de semicondutores? Deve o Brasil ter uma política para participar disto? Aí está um desafio para os responsáveis pela governança de nosso país.