Escrevo com indignação e com tristeza. Professora de Língua Espanhola e doutoranda em História da Literatura, sinto-me invisível no absurdo projeto imposto pelo governo brasileiro. Atuo como professora, sou licenciada em Letras, fiz mestrado, faço doutorado, e vejo minha profissão, que já andava desvalorizada em nosso país, desaparecer de vez, porque, de acordo com o novo modelo educacional, não precisa formação superior em licenciatura para ser professor, basta comprovar conhecimento na área específica, ter o chamado "notório saber".
É indiscutível que a educação brasileira carece de reforma há muito tempo, está enferma e pede socorro, no entanto o projeto educacional atuará como uma injeção letal. A mudança menospreza, além da língua espanhola (sobre a literatura nada é mencionado, como se a disciplina jamais existisse), a educação física, as artes, a filosofia e a sociologia.
A língua espanhola, a mais escolhida pelos estudantes no Enem e o idioma falado pelos nossos vizinhos, será ignorada. A filosofia e a sociologia também serão esquecidas, a ideia parece a de formar alunos menos críticos, assim não haverá protestos, nem invasão escolar. A educação física e as artes, disciplinas que tratam da saúde física e mental, serão, igualmente, desprezadas.
O aumento de carga horária não resolverá em nada a problemática educacional, o governo deveria, sim, era priorizar a qualificação de seus professores e incentivar o ingresso às licenciaturas, em lugar de permitir a entrada ilegítima de qualquer profissional na sala de aula, espaço desrespeitado, aniquilado, invadido por notórios saberes. Uma vergonha!
A exclusão do horário noturno só comprova o interesse do atual presidente: impossibilitar o ingresso no Ensino Médio de pessoas de baixa renda, que necessitam trabalhar durante o dia. Trata-se de um governo excludente e inflexível, tendo em vista a inexistência de uma discussão sobre o plano educacional com profissionais qualificados e especialistas na área. Uma vergonha!
Diante do plano de educação para o Ensino Médio, só me resta desejar um minuto de sensatez para os responsáveis por algo tão insano! Quem sabe refletem, consultam a sociedade, repensam e não façam entrar em vigor um projeto reducionista, discriminatório e ineficaz.