Não faz muito, assisti na TV a um juiz eleitoral dizer que países como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra etc. não adotam as urnas eletrônicas porque o sistema sai muito caro. A resposta faz todo o sentido, porque ajuda a entender que nações ricas – ao contrário das mais pobres – hesitam mais em gastar no que é prescindível.
Os benefícios imediatos do sistema que adotamos residem na praticidade do votar e na agilidade do apurar. E também diminui o risco das fraudes possíveis com as cédulas e urnas tradicionais. Por isso – à parte teorias conspiratórias –, um olhar desafetado de desconfianças permite observar que a votação eletrônica parece ser método mais seguro, embora não passe ao votante um recibo que lhe dê a certeza de que o diabo ainda não fez aliança com essas maquininhas.
Mas o que ganhamos em praticidade, com eleição e apuração em poucas horas, o próprio sistema põe a perder concedendo 30 dias de campanha para o segundo turno. O tempo excessivo dessas inserções em horários surrupiados aos órgãos de comunicação e seus ouvintes e telespectadores, se presta, segundo os nobres objetivos da legislação, a equilibrar o tempo de exposição dos candidatos perante o eleitorado, o que não ocorre necessariamente no primeiro turno. No caso de Porto Alegre, trata-se de buscar, também, e democraticamente, uma isonomia capaz de neutralizar a vantagem natural de quem já é governo.
Mas, na prática, essa "democracia de mau uso" tem-se prestado ao empanturramento do eleitor com a tautologia das promessas improváveis e a vilania das acusações recíprocas, tornando-o refém de uma deformação cívica que estimula a malquerença.
Pois, quem sabe, essa tecnologia toda não permitisse, como ouvi dia desses numa entrevista de rádio, que a própria máquina nos poupasse desse longo calvário audiovisual? Pois alguém falou que, ao votar, o eleitor escolheria três dentre os candidatos inscritos, colocando-os numa ordem de preferência. Se ninguém alcançasse os 50% dos votos válidos, a máquina – num segundo turno eletrônico – eliminaria os que aparecessem mais vezes em terceiro e assim sucessivamente, até que um dos candidatos alcançasse a maioria absoluta dos votos restantes. Simples assim, não? Seria como aprender com a máquina que ela pode realizar a mesma democracia, mas de uma forma mais econômica e mais civilizada do que os próprios candidatos.