Uma boa metáfora para explicar capital de risco é o fluxo de um rio. É verdade que, em um rio, a água flui, não fica parada. No nosso mercado de dinheiro de risco, isso nem sempre acontece, porque temos grandes barragens (fundos) formadas por dinheiro público e dumb money. Nada pior – para todos os envolvidos – do que dinheiro parado.
Rios são formados por afluentes e nutrem sistemas vivos por onde passam. No investimento de risco, cotistas são afluentes e empresas inovadoras são sistemas vivos imersos em outros sistemas, ainda mais complexos, que são os mercados em que atuam. Durante muito tempo, enxergamos como fonte de recursos para inovação apenas o oceano de dinheiro público, mas o custo de dessalinização dessa água (dinheiro que dificilmente serve para investir em inovação) é cada vez mais alto, e precisam surgir modelos alternativos.
Uma experiência digna de estudo está acontecendo em Porto Alegre. A Wow Aceleradora é viabilizada por dezenas de investidores-anjo, emulando no mundo offline o que plataformas como Broota (e seus equivalentes no mundo todo) fazem pela internet. Agora, surge no Texas uma startup chamada Microventures, que criou um mercado secundário de investimento em startups.
A aceleradora 500 Startups há tempos descentralizou o outro lado de sua operação. Hoje, seu modelo de busca de empreendedores para serem investidos é distribuído pelo mundo, e o modelo de análise é leve e enxuto, o que a permite ter um desempenho exemplar por reduzir drasticamente seu custo operacional por negócio investido.
Também dos EUA vem a startup Access, que permite integrar carteiras de investimento focadas em ativos tradicionais com carteiras de investimentos alternativos, o que pode ser um instrumento muito útil para pessoas físicas que já otimizam o grau de risco de seus ativos tradicionais – inclusive diversificando-as automaticamente por meio de robôs –, mas que precisam enxergar o efeito de investimentos alternativos (até mesmo investimento em inovação) no nível de risco. Dessa forma, é possível ter uma carteira cuja relação risco-retorno está o mais perto possível da fronteira eficiente sem deixar de seguir suas crenças a respeito de inovações e transformações sociais.
É uma revolução em curso, que permitirá que pequenos investidores financiem a inovação e a consequente transformação da sociedade, de maneira descentralizada.
Isso tudo sem falar no potencial de outras tecnologias como block chain e criptomoedas, que darão transparência a esse processo todo e possibilitarão que o dinheiro atravesse fronteiras nacionais, que hoje são rochas enormes nessa bacia hidrográfica, transponíveis somente se o investidor tiver vazão suficiente para operar em paraísos fiscais ou pagar taxas enormes para transferir dinheiro entre países.
Já é possível ser investidor em crédito em outros países, ou seja, ser credor de (micro)empreendedores localizados ao redor do planeta. A startup BTC Jam faz isso utilizando criptomoedas, e a plataforma Kiva já atua há vários anos com essa lógica, mas com um foco mais social.
Que esse rio vai mudar de curso, já podemos ter certeza. Só nos resta saber quando.