Quando foi que aprendemos a viver com medo? Certamente, não foi de uma hora para outra. Ainda lembro de uma Porto Alegre tranquila, há não tantos anos. A escalada da violência veio aos poucos, por vezes despercebida em meio a outras mudanças culturais que nos desviaram do caminho do desenvolvimento para o caos que vivemos hoje. De qualquer forma, não podemos dizer que foi inesperado.
Vimos passivamente a relativização dos direitos de propriedade, com invasões a imóveis urbanos, empresas e propriedades rurais, para não alongar nos exemplos. Logo, essa violação levou a incontáveis atos de destruição refletindo um ódio contra o capitalismo próprio de certas organizações. Por fim, a moral passou a ser relativizada e qualquer coisa, justificável. Matou? Roubou? Violou? Frases como "não deve ser punido, pois não sabia que era errado" se combinaram com críticas à atuação firme da polícia, que bravamente ainda luta para cumprir sua missão. Abrimos mão até mesmo do nosso direito de defesa. Assim, nos degeneramos como sociedade, chegando ao cúmulo de pais e mães serem mortos na frente dos filhos. A violência passou a ser banal e o descaso se reflete no cuidado que não se tem com a cidade.
Em outro front, o alvo foram os valores que moldaram a nossa história, de liberdade, inovação e trabalho duro. Os serviços essenciais foram sucateados e o Estado sofre pela própria indisciplina. O empreendedorismo agoniza por inviabilização. Já parou para pensar em quantas empresas perdemos ao longo dos anos? E nos empregos e renda que foram com elas? As que se mudaram, na verdade, fugiram. Escaparam da burocracia, da intervenção desmedida e de um exorbitante custo de transação.
Ainda sonho com uma cidade sem grades, onde as crianças possam brincar na rua sem medo. Para isso, temos que mudar muito e rapidamente. O Estado tem que se adaptar, saber priorizar e retirar as amarras que sufocam quem quer empreender. O tempo pode não estar do nosso lado, mas o momento é de agir. Se não acreditarmos, o Salgado Filho se torna a saída possível.