Escrevo com indignação e com tristeza, professora de Língua Espanhola e doutoranda em História da Literatura, sinto-me invisível no novo e absurdo projeto imposto e, não proposto, pelo governo brasileiro. Atuo como professora, pois sou licenciada em Letras, fiz mestrado, faço doutorado, e vejo minha profissão, que já andava desvalorizada em nosso país, desaparecer de vez, porque, de acordo com o novo modelo educacional, não precisa formação superior em licenciatura para ser professor, basta comprovar conhecimento na área específica, ter o chamado "Notório Saber". Uma vergonha!
É indiscutível que a educação brasileira carece de reforma há muito tempo, está enferma e pede socorro, no entanto o projeto educacional atuará como uma injeção letal. A mudança exclui, além da língua espanhola (sobre a literatura nada é mencionado, como se a disciplina jamais existisse) a educação física, as artes, a filosofia e a sociologia.
A língua espanhola é a mais escolhida pelos estudantes no ENEM, tornou-se obrigatória no ensino médio em 2005, lamentável ser desconsiderado o idioma falado pelos nossos vizinhos. A filosofia e a sociologia ignoradas, afinal melhor criar alunos menos críticos, sem protestos e sem invasão escolar para discutir temas sociais. A educação física e as artes, disciplinas que tratam da saúde física e mental, também desprezadas. Uma vergonha!
O aumento de carga horária não resolverá em nada a problemática educacional, o governo deveria, sim, era priorizar a qualificação de seus professores e incentivar o ingresso às licenciaturas, em lugar de permitir a entrada ilegítima de qualquer profissional na sala de aula, espaço desrespeitado, aniquilado, invadido por notórios saberes. Uma vergonha!
A exclusão do horário noturno só comprova o interesse do atual presidente: impossibilitar o ingresso no ensino médio de pessoas de baixa renda, que necessitam trabalhar durante o dia. Trata-se de um governo excludente e inflexível, tendo em vista a inexistência de uma discussão sobre o plano educacional com profissionais qualificados e especialistas na área. Uma vergonha!
Diante do plano de educação para o ensino médio, só me resta desejar um minuto de sensatez para os responsáveis por algo tão insano! Quem sabe refletem, consultam à sociedade, repensam e não façam entrar em vigor um projeto reducionista, discriminatório e ineficaz.