Muito se discute hoje como navegar nesta era acelerada, ou mundo digital. As discussões são bem intencionadas, mas ainda há um altíssimo grau de miopia quanto às causas dos desafios que estamos vivendo. Clay Christensen, professor de inovação disruptiva em Harvard, cita a indústria da aviação para explicar por que erramos na direção das nossas decisões neste novo mundo.
Na história da aviação, as pessoas achavam que o tamanho das asas e das penas era o que fazia voar. Houve muitas tentativas e nenhum voo. Até que Daniels Bernoulli publicou um livro sobre hidrodinâmica e o setor da aviação deslanchou. A hidrodinâmica era a verdadeira causa da capacidade de voar dos pássaros. Esta analogia ajuda a explicar como lidar com as mudanças que a era digital tem trazido. Começando por entender que a transformação provocada pelo digital não é causada por uma ferramenta, canal ou plataforma, mas por um mindset muito diferente do que estamos acostumados. A tecnologia tornou o mundo transparente, o que estimulou mudanças de comportamento que não podem ser resumidas em um aplicativo ou estratégia de comunicação.
Por que isto é relevante? Porque os desafios que as empresas e os executivos precisam enfrentar são muito mais profundos do que a maioria está percebendo. Enquanto ficam debatendo se tem que fazer essa ou aquela mudança, novos players começam a entrar e pegar partes do mercado.
Apesar de investimentos em inovação, a maioria das empresas contrata e fomenta comportamentos reativos: experts, perfeição, silos, planejamento orientado a processos, sistema operacional hierárquico, centrado no produto. Só que esses comportamentos não são a resposta, assim como mais penas ou asas maiores não eram a resposta para a aviação. Estamos vivendo uma transformação tão definitiva quanto foi a transição para a sociedade industrial e a introdução da energia em nossas vidas. E não existem fórmulas prontas ou mapas de navegação. Muitas pessoas não veem esta dimensão e ficam presas em discussões táticas e superficiais.
Precisamos aceitar que vivemos em um mundo em transição, onde a capacidade de navegar no caos e criar relevância e valor nesse caos são vitais. É necessário desenvolver novos comportamentos como proatividade, experimentação, exploração, fazer acontecer, colaboração, aprendizagem contínua, falhar rápido, comportamento ágil e centrado no cliente. E desenvolver equipes com essas competências, em vez de investir em mais do mesmo, pode ser um ótimo primeiro passo para aqueles que querem de fato decolar nesse meio caótico. Mas requer coragem e capacidade de tolerar o risco e a incerteza, até porque não há garantia de sucesso. Ele virá se conseguirmos exercer o desapego em relação ao que nos trouxe até aqui, abrindo espaço nas nossas vidas e empresas para cocriar este novo momento com parceiros internos e externos, em formato de ganhaganha, não mata-ganha.