Alarmado com o aumento de crimes contra políticos, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Gilmar Mendes, solicitou ontem ao ministro da Justiça investigação rigorosa dos atentados a candidatos em Goiás, no Rio de Janeiro, na Bahia e em outros Estados que registram violência na campanha eleitoral. Definido como um ato de barbárie política, o atentado que vitimou o candidato à prefeitura de Itumbiara, em Goiás, e que também atingiu outras pessoas que o acompanhavam, escancara uma ameaça que a democracia brasileira já parecia ter superado. Mas, pelo que se vê, ainda há resquícios de coronelismo em algumas regiões mais afastadas e crescimento de crimes políticos praticados por milícias e traficantes nos grandes centros urbanos.
Ainda que o atentado de Itumbiara possa ter motivações pessoais, o que está ainda sendo apurado pela polícia, as ações criminosas de milícias nos municípios da Baixada Fluminense e das zonas Norte e Oeste do Rio não deixam dúvidas de que o crime organizado busca espaço na política. Numa região que registrou o assassinato de 13 candidatos a vereador nos últimos nove meses, o tráfico e as milícias criaram até mesmo uma taxa eleitoral para autorizar campanhas em áreas dominadas. Além disso, esses grupos criminosos elegem seus próprios representantes para cargos públicos e protagonizam ações ousadas como a recente retirada das bancas de jornais que denunciavam um candidato à Câmara Municipal de São Gonçalo.
O crime comum, nas dimensões em que é praticado no Brasil, já representa uma ameaça à democracia, pois priva os cidadãos de liberdade e do direito de ir e vir. O crime político, nos moldes em que está sendo praticado nos Estados referidos, é uma sentença de morte da livre escolha, que é o pressuposto basilar do sistema representativo.